
Tarcísio está com jeitão de João Doria da extrema direita
Tarcísio de Freitas deve parar de tremer e se preparar para o fim do teatrinho do não sei o que será de mim em 2026. Bolsonaro está fora do jogo e não tem mais como levar adiante o personagem que vinha tentando imitar o Lula de 2018.
Agora é tudo com Tarcísio. Valdemar Costa Neto, o PL, o Republicanos, o Globo, a Folha, o Estadão, o mercado e os grileiros – todos sabem que será preciso abraçar Tarcísio.
Mesmo que Tarcísio, pelo que se viu até aqui, possa vir a ser o João Doria da extrema direita. Doria se fantasiou de terceira via, foi tratado como tal e ofereceu a vacina sonegada por Bolsonaro. Mas naufragou porque não sabiam direito o que ele era e qual seria seu potencial para vencer Lula.
Tarcísio enfrenta a pressão da extrema direita para que explicite sem vacilo sua fidelidade incondicional a Bolsonaro e ao bolsonarismo. E se submete ao cerco da velha direita, da Faria Lima e dos jornalões para que se afaste um pouco de Bolsonaro e assuma o perfil de extremista moderado.
Doria não conseguiu convencer que poderia fazer, pela direita, mais do que Bolsonaro acabou fazendo com Paulo Guedes ao seu lado pela extrema direita. Se vacilar, se adiar a definição do que de fato é, Tarcísio pode ter a mesma sina.
Depois de Bolsonaro, é ele a figura pública do primeiro time que mais treme no Brasil hoje. O governador, que alguns institutos tentaram mostrar como páreo diante de Lula, mas que o Datafolha expõe como um pangaré (teria 39% contra 48% de Lula no segundo turno), precisa dizer o que quer da vida.
A sensação de vacilo aparece no Datafolha da semana passada, que perguntou aos paulistas se Tarcísio deve concorrer à reeleição ao governo do Estado ou à presidência da República em 2026. Para 58%, deve tentar se reeleger, enquanto apenas 30% defendem que dispute a presidência.
Quando os entrevistados são apenas os bolsonaristas, sobe para 61% o índice dos que entendem que suas chances estão no Estado. O Datafolha prova que Tarcísio é um estepe que não tem a confiança da direita e do bolsonarismo.
Outra pesquisa do Datafolha, também da semana passada, informa que a avaliação do governador pelos paulistas é ótima ou boa para 41% dos entrevistados. Outros 33% o avaliam como regular e 22% como ruim ou péssimo.
Em abril de 2023, o índice de aprovação era de 44%. A reprovação era a metade da atual, de apenas 11%. Tarcísio perde força na capital e se mantém agarrado ao interiorzão que o bolsonarismo tomou do tucanismo.
Mais uma pesquisa do Datafolha nos diz que 58% dos brasileiros percebem aumento da criminalidade nos últimos 12 meses. Em São Paulo, são 64%. Os índices de paulistas que temem assaltos, roubos de celulares, agressões na rua, sequestros e balas perdidas são superiores às médias nacionais.
Tarcísio não estava nem aí quando sua polícia matava negros e pobres na Baixada Santista. Agora, brancos são assaltados e mortos em Pinheiros e no Itaim Bibi. O governador passa a ser visto como um vacilão com a bandidagem também pelos ricos e pela classe média.
É esse o candidato que precisa mimetizar Bolsonaro pela metade e deixar que a velha direita se encarregue da fantasia da outra metade, até porque ninguém leva a sério Zema, Caiado e Ratinho.
O governador foi tenente, como seu chefe Bolsonaro, mas com um acréscimo: também foi burocrata de alta patente em Brasília, antes de ser ministro, e se apresenta com a virtude sempre valorizada de gestor.
Mas pode não ter a faca na bota do bolsonarismo raiz, o que explica sua base ainda instável a partir da qual poderia alargar apoios.
Tarcísio gostaria de ser o Bolsonaro 5.0, mas pode acabar como um João Doria piorado. E com um boné trumpista da América grande que, por mais que se esforce, nunca conseguirá tirar da cabeça.