
O ‘esquerdista’ Lula e os fascistas e extremistas
Os dois discursos de Lula no Congresso e no Planalto tiveram forte pegada de esquerda, não só por destacarem a importância de um Estado protagonista e as prioridades à área social diante da pressão por contenção fiscal.
Os recados ao mercado indiferente à fome não significam nenhuma novidade.
Foram discursos de repulsa às atitudes e à herança do derrotado e seus significados.
As palavras fascismo, extremistas e extremismo autoritário apareceram nos dois discursos.
Fascismo e extremismo autoritário são ditas no discurso no Congresso. A palavra extremistas aparece no discurso no parlatório do Palácio do Planalto.
Analistas de direita também destacaram que, ao falar da falta de recursos para o SUS, Lula atacou de novo o teto de gastos, que Bolsonaro nunca obedeceu, mas que o mercado exige que Lula respeite.
A crítica de Lula vem desde a campanha, mas desta vez ele se referiu ao limite imposto para custeios e investimentos em áreas essenciais como “uma estupidez chamada teto de gastos, que haveremos de revogar”.
Também há queixas contra a afirmação de Lula de que Bolsonaro e todos os que cometeram crimes terão de se entender com a Justiça.
Cada um ouviu o discurso que desejava ouvir.
Míriam Leitão no Globo:
“Discurso de Lula ressalta democracia e inclusão e nega revanchismo”
Igor Gielow na Folha:
“Lula propõe união nacional e sugere caça às bruxas”
As bruxas seriam os fascistas, para os quais, segundo o que o povo gritava em jogral na Praça dos Três Poderes, não deve haver anistia.
O jornalismo do mercado sabe que o Lula ‘esquerdista’ da posse foi o mesmo esquerdista da diplomação. Todos os três discursos tiveram forte componente político.
A direita achou que deveriam ser menos incisivos como denúncia da destruição não só do Estado, mas das relações humanas nos quatro anos de governo.
Na diplomação, a palavra extremista aparece sete vezes. Mas não no discurso de Lula, mas do ministro Alexandre de Moraes.
O fascista não gosta de ser chamado de fascista ou de extremista. Mas não há o que fazer com o ‘esquerdismo’ de Moraes.
O esquerdismo de Lula, apontado pela direita que fala em nome do mercado, deve ser grafado entre aspas, assim como o esquerdismo do ministro do STF.
O fascismo deles, não.