Intendentes
O envolvimento direto de mais de uma dezena de militares de altas patentes no escabroso esquema de corrupção de compra de vacinas superfaturadas, no Ministério da Saúde, não é revelador apenas do mau caráter implícito do governo Bolsonaro.
O caso traz, em si, implicações estruturais sobre a necessidade urgente e inadiável de, restaurada a normalidade democrática, haver uma interferência extremada na formação do militares e na estrutura doutrinária e administrativa das Forças Armadas.
Será um trabalho difícil e vai exigir um tipo de coragem que nenhum governo, depois da redemocratização do País, em 1985, se arriscou a ter.
Largados para viver por conta própria, com recursos praticamente livres de fiscalização pública e senhores das rotinas e currículos das escolas de formação de oficiais e praças, os militares se recolheram aos quartéis, depois da ditadura militar, e inventaram um mundo próprio.
Um mundo onde o comunismo ainda é uma ameaça permanente e a Guerra Fria nunca acabou. No qual o binômio hierarquia e disciplina, ao invés de produzir militares nacionalistas, desandou na criação de helenos, pazzuelos e bragas nettos, generais orgulhosos da própria indigência intelectual, partícipes de um governo entreguista e, como se sabe, agora, corrupto.
O esquema de “comissionamentos”, eufemismo pomposo para cobrança de propinas, instalado na gestão Pazuello, dentro do Ministério da Saúde, nada mais é do que uma velha prática de intendentes corruptos, plenamente normalizada dentro dos quartéis brasileiros.
O que nos leva a outra questão: enquanto couber ao próprios militares investigar esses punguistas de almoxarifado e à Justiça Militar, julgá-los, a bandalheira com dinheiro público, na caserna, nunca vai ter fim.
Intendência, aliás, é a arma do Exército da qual é oriundo o general da ativa Eduardo Pazuello.