
Finalmente, um general é interrogado por civis
Por Moisés Mendes 18 Maio, 2021 Envie Um Comentário
Bolsonaro conseguiu o que a Comissão da Verdade tentou desde 2014, quando da conclusão do seu relatório sobre os crimes da ditadura. Bolsonaro ofereceu um general aos interrogadores civis da CPI do Genocídio.
A Comissão da Verdade pediu a responsabilização civil e criminal de 377 autoridades apontadas por envolvimento em todo tipo de violência, das prisões arbitrárias às torturas e aos assassinatos. Dessas, 58 eram generais.
Todos eram generais da reserva e a maioria já havia morrido. Nunca foram ouvidos por ninguém. Eduardo Pazuello está bem vivo, é general da ativa.
Todos os denunciados pela Comissão da Verdade escaparam de ficar diante de investigadores, acusadores e julgadores civis, por conta das vastas proteções asseguradas pela anistia de 1979.
Pazuello é o primeiro general ainda fardado a ser interrogado, em outras circunstâncias, por gente sem farda, num grupo com o poder de investigar e identificar autores de delitos e pedir providências ao Ministério Público.
Essa é a situação de Pazuello. Um general da ativa, que ocupou postos de comando no Exército e foi ministro da Saúde, será interrogado nesta quarta-feira por um grupo de senadores que, se quiserem, pode até mandar prendê-lo.
O general estará na CPI, formalmente, na condição de testemunha das ações de governo que levaram ao genocídio da pandemia.
Um general será interrogado por ter testemunhado e também ter envolvimento direto com atividades que poderão ser enquadradas como criminosas.
Pazuello sabe muito. Sabe quem eram e são os interessados na cloroquina, não como remédio, mas como negócio. E sabe quais eram as facções mobilizadas para morder os fabricantes de vacinas.
Mordiam e faziam lobby pela cloroquina e mordiam ou tentaram morder para intermediar a negociação com vacinas.
Pazuello deve saber por que o secretário de Comunicação de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, tentou, ao lado de Carluxo, fazer lobby para a Pfizer e por que sua tentativa não deu certo. Pazuello sabe muita coisa do que aconteceu em sua sala ou no entorno.
Os generais da ditadura poderiam (se a Justiça concordasse, mas o Supremo não concordou) ser processados, em muitos casos, como ocupantes de cargos de comando e por terem sido omissos, mas geralmente por envolvimento indireto nos crimes.
Pazuello poderá ser enquadrado por envolvimento direto com ações que resultaram no massacre da pandemia. O Exército nunca imaginou uma situação tão esdrúxula e tão constrangedora.
Os generais foram acusados pela morte e pelo desaparecimento de 434 brasileiros durante a ditadura. Pazuello está sob a suspeita de participação em ações e omissões que contribuíram para a morte de mais de 400 mil pessoas.
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UMA FAMÍLIA BARRA PESADA
A jornalista Cristina Serra publicou um texto na Golha em que a principal revelação é essa: Pazuello é ligado a uma turma da pesada, que envolve um irmão que a polícia conhece bem.
Um trecho do que Crtistina publicou, baseada em informações de dois sites:
“O site Sportlight revelou que Pazuello se tornou sócio de uma empresa de navegação quando já era secretário-executivo da Saúde. A empresa pertence à sua família e tem relações contratuais com órgãos públicos.
O site De Olho nos Ruralistas mostrou a sociedade em mais duas empresas com o irmão, Alberto Pazuello, figura barra pesada da crônica policial de Manaus.
Em 1996, foi preso por estupro e tortura de adolescentes e acusado de participar de um grupo de extermínio.
Conhecer o contexto do personagem em questão talvez ajude a CPI a entender melhor seu papel no morticínio brasileiro”.
E nesta terça-feira o Jornal Nacional mostrou como Pazuello firmou contratos, como ministro da Saúde, sem licitação, com empresas falcatruas. Há indícios de fraudes que somam R$ 30 milhões envolvendo empresários amigos do general.
Quem vai encarar as facções de Pazuello?