Cinismo motivado
Ao descartar a existência de motivação política no homicídio de Marcelo Arruda, liderança petista assassinada, em Foz de Iguaçu, pelo fanático bolsonarista Jorge Guaranho, a delegada Camila Cecconello saiu-se melhor, mas muito melhor, que a encomenda feita pelo Palácio do Planalto.
(Aliás, que dificuldade dos trocentos analistas da mídia para chegar a uma conclusão tão óbvia. Hoje, na CNN Brasil, um daqueles comentaristas arrumadinhos fez a volta ao mundo para falar do caso e não melindrar o governo)
Na visão da delegada – jovem, branca, loira, que cansaço disso – o assassino – jovem, branco, fã do mito – saiu de casa só para caçar confusão.
Sabe como é, o sujeito está entediado, com a mulher e o filho pequeno no carro, descobre que tem um petista fazendo aniversário e pensa: “Ah, vou ali caçar uma confusão num clube que fica a 10 quilômetros da minha casa, só por diversão!”.
Quem nunca?
Vai lá, caça a confusão, grita o nome do mito que conclamou os seus a fuzilar a petralhada, volta para casa e, finalmente, retorna armado para, justamente, fuzilar a petralhada.
Para delegada, o fato de que a vítima era do PT e, o tema da festa, a candidatura de Lula, aí incluídos os enfeites das mesas e o bolo do aniversariante, não basta para nem mesmo insinuar uma motivação política.
Por essa lógica, ainda que a temática fosse o Mundo Bita, Guaranho chegaria atirando do mesmo jeito, provavelmente revoltado com o fato de o sol já ter nascido, lá, na fazendinha.
Segundo a delegada, para configurar motivação política, os tiros disparados por Guaranho deveriam ter tido a intenção de, especificamente, cercear os direitos políticos de Arruda.
Como foram disparados só porque ele era petista e estava comemorando, na frente da esposa e dos quatro filhos, o próprio aniversário em homenagem a Lula, não houve motivação política alguma.
E as instituições, claro, continuam funcionando.
Escrito por:
Jornalista, escritor e professor. Sócio fundador da agência de publicidade e marketing digital CobraCriada.
