A pandemia que já fecha hospitais não assusta o presidente e sua boiada
Nessa sexta-feira, 11, centenas de mães e gestantes deixaram de atendidas pelo CISAM, o Centro de Saúde Amaury de Medeiros, hospital de referência da rede pública do Estado de Pernambucano. A “Maternidade da Encruzilhada”, carinhosa e respeitosamente assim conhecida, pelo bairro onde está localizada, na Zona Norte do Recife, suspendeu o seu atendimento e sabe-se lá quando vai reabrir – espera-se que logo. O motivo: boa parte do seu quadro de profissionais, entre médicos, enfermeiros, técnicos e funcionários, foi contaminado pelo Coronavírus e contraiu a Covid-19. Alguns, reinfectados.
No mesmo dia, o tenente reformado do Exército, que hoje ocupa, de maneira inadequada, o “comando” da Nação, passeava em Angra dos Reis, litoral do Rio de Janeiro, entregando submarino cuja produção e investimento não tiveram o dedo dele. E, claro, dando entrevistas pra variar desastradas. Um dia antes, ele jactou-se de ser o Brasil o país que “melhor enfrentou” a pandemia que, segundo ele, está “no finzinho”. E não mencionou os 180 mil mortos pela doença que o Brasil alcançava, no mesmo dia. A cavilosa aparição do presidente da TV soou como um deboche, ao estilo de quase todas as suas aparições da mídia, seja qual for o motivo ou a pauta.
Alheio ao que ocorre no país que teve a desdita de lhe eleger, o ex-militar em exercício da presidência da República fechava, de modo peculiar e todo seu, uma semana pra se esquecer. Acrescentou fatos na guerra insana que trava com os governadores por causa da vacina a ser adotada e de um planejamento vacinal que ninguém sabe pra onde vai. Para ele vale mais arregaçar as mangas na guerra política que mantém contra determinada vacina, de São Paulo, por sua origem ser chinesa.
Vale mais o vale tudo ideológico que inunda os cérebros ocos dos que o seguem, caninamente. Pouco importa o resto. Pouco importa a quantidade absurdamente crescente de brasileiros e brasileiros que predem as duas vidas por conta do “show” que o governo federal acha que deu no trato à maior tragédia sanitária da história da Humanidade.
Na mesma e esquecível semana que teve ainda um bizarra e inoportuna exposição de trajes do primeiro-casal no momento da possa, o presidente zerou a alíquota de importação de armas de fogo, dando prosseguimento ao seu projeto pessoal de armar a população “de bem”, sabe-se lá para que. A retirada de tributos para revólveres e pistolas atende ao lobby fortíssimo que tem na própria “família presidencial” os maiores interessados e os mais ativos porta-vozes. Basta ver as fotos costumeiras, aparentemente desnecessárias, do presidente e seus filhos, posando com vistosas armas na cintura.
Fotos que ilustram bem um país onde cresce o número de assassinatos à medida que se libera o bang-bang. O mesmo país onde se nega educação e saúde, pra não falar mais da segurança. O país que chegou, nessa mesma semana, ao milésimo dia de silêncio das autoridades sobre os mandantes da execução da vereadora Marielle Franco e do seu assessor Anderson Gomes. Crime praticado por elementos já presos, um deles vizinho de condomínio do presidente da República.
Sobre o CISAM, tema que abriu este texto, o Governo de Pernambuco divulgou nota oficial explicando: “O número de afastamento de profissionais nesta semana foi maior do que a capacidade de remanejamento. A reserva técnica atual é insuficiente para suprir a necessidade de 38 enfermeiros e 39 técnicos para recompor as escala”. O Estado, como a maioria da federação está exaurindo a oferta de leitos para pacientes de Covid-19. A “gripezinha” que, segundo o presidente e sua boiada, só assusta “bundões” e “maricas”.