A dúvida filosófica do colunista da Folha: e se Marçal ressuscitar os mortos?

12 de setembro de 2024, 12:54

Este é o começo de reportagem de Anna Virginia Balloussier, nesta terça-feira na Folha, sobre os ‘milagres’ do ex-coach e estelionatário condenado Pablo Marçal:

“Visualiza você no reino, plena, andando e dançando com o Senhor”, Pablo Marçal instiga uma cadeirante da plateia. Ela tenta se levantar com ajuda de um assistente do dono do show, mas bambeia, sem conseguir se sustentar sobre as pernas.

A cena aconteceu no Chamado dos Generais do Reino, evento promovido por Marçal em 2021, num auditório goiano. O encontro, segundo seu protagonista, serviu para desbloquear a inteligência emocional dos 16 mil ali presentes, fora outros milhares assistindo online”.

E logo abaixo eu compartilho trecho da coluna de Joel Pinheiro da Fonseca, que se apresenta como economista graduado também em filosofia, na mesma Folha:

“Marçal não é mero voto de protesto, como Tiririca foi no passado. Ele concentra, sim, a revolta (contra a política tradicional, contra a imprensa), mas traz também um valor positivo. Ele oferece ao eleitor algo em que acreditar. Encontrou o ponto ideal entre o discurso das igrejas e o discurso de coach. Predestinação divina e conquista por mérito próprio se fundem num pacote único. Se ele realmente é capaz de entregar os milagres que promete — ou se é um estelionatário — é uma outra questão”.

O resumo possível, e talvez desnecessário, colocando-se um texto diante do outro. A Folha denuncia, com os recursos do jornalismo, os ‘milagres’ do farsante em uma reportagem com detalhes da farsa.

E o colunista economista-filósofo da mesma Folha considera a possibilidade de que os milagres possam acontecer. O articulista apresenta uma dúvida que aciona uma inquietação: e se o cara ressuscitar mesmo os mortos?

Ele escreve, quase em tom bíblico, sobre o sujeito: “Encontrou o ponto ideal entre o discurso das igrejas e o discurso de coach. Predestinação divina e conquista por mérito próprio se fundem num pacote único”.

Predestinação divina. Entenderam? Os filósofos enxergam o que pessoas comuns não conseguem ver. Se for um filósofo alinhado com a direita e embevecido com os milagreiros da extrema direita, enxerga ainda mais. Joel Pinheiro da Fonseca pode se candidatar a ser um dos evangelistas de Pablo Marçal.

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

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