Você acredita mesmo que Bolsonaro respeitaria a derrota do voto impresso?
Ingênuo. Taí uma coisa que o deputado federal Arthur Lira (PP) não é. O esperto parlamentar alagoano, pelo contrário, tem de sabido o que tem de ardiloso. Eleito sob a unção de Jair Bolsonaro, ele conhece, como poucos, a índole e as artimanhas do presidente da República. Vem daí, portanto, o estranhamento causado pela fé que o deputado do Centrão teria depositado na palavra do “mito” quando este, de cara lisa, teria dito que respeitaria a decisão do plenário da Câmara, fosse qual fosse o resultado da votação da PEC do voto impresso. O acordo estaria fechado e a paz reinaria.
Custa crer que Lira tenha embarcado em tamanha lorota. Acreditar no presidente da República, inclusive nesse caso, seria passar um atestado de ingenuidade. Seria dar uma de Terta, a simplória personagem de Chico Anysio que, fosse qual fosse o tamanho da mentira, estava ali, crédula e firme, para assinar embaixo de tudo o que parlapatava o marido Pantaleão. Mas, em se tratando de Arthur Lira, essa hipótese é meio improvável. Mais viável pensar que, do presidente, ele não ouviu a promessa. E porque a divulgou? Talvez para pressionar Bolsonaro a uma improvável crise de consciência.
Mas, quem acompanha os passos do tenente reformado eleito para comandar o País na esteira de uma campanha marcada por ódio e por fake news não caiu nessa conversa. Difícil imaginar Bolsonaro aceitando, cândido, o resultado do plenário e se curvando à decisão dos pares de Lira. Decisão lógica e racional que foi a de manter a urna eletrônica como mecanismo para o sufrágio livre, seguro e transparente que, na verdade, o é. Pois, não durou 48 horas e o presidente da República já estava lá, empertigado no cercadinho, a expelir inverdades sobre o processo eleitoral, a agredir o Tribunal Superior Eleitoral e a plantar denúncias vazias e sem provas contra o tipo de voto que sempre o elegeu.
Ao longo do dia, nesta quinta-feira (12), Jair Bolsonaro voltou a abrir fogo contra o voto eletrônico e contra os seus “inimigos” do STF. Em entrevista a uma rádio aliada, foi cristalino: “É nossa obrigação fazer a vontade da maioria da população. Estão organizando movimento para 7 de setembro em São Paulo. Estou sendo convidado e vou decidir nos últimos dias se vou ou não”. O protesto, no Dia da Independência, está sendo convocado por adeptos do voto impresso. E foi além: disse que não vai esperar as coisas acontecerem para “tomar providências” e que com o “apoio do povo”, irá “até o final da linha”. Mais claro impossível.