Uma questão de saúde e de roubo
Carta para José Carlos Capinan
Li o problemão enfrentado por você, poeta maior: seu seguro de saúde, o Bradesco, se negava a cumprir decisão judicial que assegurava tratamento domiciliar. Li depois que houve uma decisão irrecorrível, mas não sei se o Bradesco obedeceu ou não: é que muitas vezes as seguradoras de saúde preferem pagar multas altíssimas a abrir precedentes, no sentido de cumprir o que determina a Justiça e ter de atender a um montão de outros casos.
Esclareço que nós dois estivemos lado a lado no máximo três vezes na vida, e nem creio que se lembre de mim.
Entendi, porém, claramente o que você enfrentou e espero que tenha sido superado.
Passei por um problema idêntico ao seu, Capinan, e com a mesma seguradora de saúde do Bradesco.
Em fevereiro deste nosso 2021, um médico ortopedista, amigo meu, detectou uma inflamação num nervo de nome complicado do meu braço direito. Explicou que precisava operar rapidinho, pois corria o risco de ter problemas especialmente sérios na minha mão.
Marcou a cirurgia para determinado dia, avisei ao Bradesco, pediram documentação, que foi devidamente despachada.
O pedido mandado ao Bradesco me chamou a atenção: falava em “Cirurgia de Urgência”.
Assustado, liguei para o meu amigo, que tentou me sossegar: disse que grave mesmo é quando se pede “Cirurgia de Emergência”.
Pois bem: documentação mandada, e nada de resposta. Quatro dias antes da – reitero – “Cirurgia de Urgência”, pediram documentação complementar. Mandei o email para o meu médico, que respondeu abismado: o que pediam como “complementar” estava na documentação enviada pedindo a cirurgia.
Enfim, foi mandado de novo. Dois dias antes da operação, outro pedido de complementação, que foi atendido na mesma tarde.
E então o Bradesco pediu dez dias para analisar a requisição de “Cirurgia de Urgência”.
Só me safei dessa canalhice porque meu amigo ortopedista e sua equipe me operaram sem cobrar nada.
Se cobrassem, eu não teria como pagar. A propósito de pagar: o Bradesco me cobrava 6.450 reais por mês, para mim e minha companheira. Isso quer dizer 77.400 reais por ano.
Saí, é claro, dessa ratoeira. E fui parar onde?
Num treco chamado Prevent Senior, aconselhado por amigos.
Então, estamos assim, perdidos: enquanto o SUS é desmantelado por Jair Messias e a canalhada que o rodeia, sem exceção canalhas todos, temos de recorrer à assistência privada, puramente comercial.
E isso nós, que temos o altíssimo privilegiado de poder pagar um seguro saúde.
No meu caso, ou continuava pagando 6.450 reais para uma ratoeira chamada Bradesco, ou pagar menos da metade correndo o risco de ser submetido ao método Goebbels, o mesmo Prevent Senior que acoberta o Genocida e seus métodos.
Posso mudar de novo, claro. Mas teria de entrar num período sem atendimento, o chamado “período de carência”. Pois é…
Capinan, Capinan: temos amigos em comum, sou admirador irremediável da sua escrita, e tenho “O tempo e o rio”, que o Edu musicou, entre as invejas mais profundas da minha pobre vida.
Tudo de bom para você. Espero que agora em casa.
Abraços