Rita nos resgatou a adolescência
No nosso tempo… A frase remonta a duas coisas: estamos velhos e, no tempo em que éramos adolescentes….
Mas no tempo em que adolescemos (os maiores de 60), ainda não havia para nós Rita Lee, a tradução da jovialidade como veio a ser nos anos de 1980. A nossa Rita Lee era a noivinha hippie, inserida no conjunto “Os mutantes”, um bando entre louco e divertido, que frequentava os festivais da Record.
Essa era a nossa praia, os nossos, a turma dos festivais. As nossas festas eram temáticas. A música tinha um quê de tristeza, protesto, indignação e os encontros acabavam não sendo apenas isto: festas. Eram momentos para chorar as mágoas, o arrocho salarial, as perdas, principalmente da liberdade. A nossa adolescência foi ao som de bandas marciais, brandir de pratos e o rufar do tarol.
A nossa jovialidade ficou espremida entre a bossa nova e as músicas de protesto. A nossa adolescência militou ou alienou. Era preto, ou branco. A favor, ou contra. Direita ou esquerda. E tinha os “nada”.
Os anos de 1980 nos trouxeram a “Nova República”, que nasceu velha, sofrendo de diverticulite e outros “its”. O frescor veio com Rita Lee. Rita nos propiciou a verdadeira adolescência. Nos renovou, jogando a nossa geração – então na faixa dos 30 -, na pista novamente, mais tarde no Circo Voador, mas sempre ao som de suas composições. Adolescemos, enfim. Nós que éramos “ovelha negra”, pedimos desculpas ao “auê” e começamos a ter mania de você.
Nos lançamos na sua banheira de espuma, ousamos com “lança Perfume” e nos recriamos, jovens, enfim. Alegres de verdade, a bordo de canções menos comprometidas, mas que nos revelaram, finalmente, a liberdade. Essa era a sua política: fazer ao seu jeito, ser quem você quis e nos permitir, agora sim, adolescer. Obrigada, Rita Lee!