Palácio do Planalto e o senador Ciro Nogueira (PP-PI) (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil | Edilson Rodrigues/Agência Senado)

Reunião de Bacana: Bolsonaro renuncia e o Centrão assume o Brasil

21 de julho de 2021, 15:56

O anúncio da ida do senador Ciro Nogueira (PP-PI) para a Casa Civil escancara uma verdade insofismável: o Brasil tem novo comando político e foi entregue, de mão beijada, o que de pior e mais fisiológico existe no cenário político. O Centrão, que já preside as duas casas legislativas e constitui a base política fisiológica do governo bolsonarista, é agora quem manda de fato no centro político do poder. E como tem quem mande e quem obedeça, o governo de direito passa a se curvar diante do governo de fato.

Jair Bolsonaro tem a popularidade mergulhada no abismo, a credibilidade descendo abaixo de zero, uma gestão em frangalhos e uma população entregue à pandemia, pobre e faminta. O desespero em que o presidente se encontra atesta o primeiro fato. A indiferença do país (cada vez maior) e do mundo diante de um governo tão bisonho comprova o segundo. A mediocridade sua e de seus auxiliares, aliada à máquina de corrupção montada em áreas cruciais, como é o caso do Ministério da Saúde, assinala o terceiro. E as filas de criaturas famélicas, em Cuiabá, esperando pela distribuição de ossos para terem o que comer (no caso para tomar sopa) é a mais completa tradução do quinto item.

Já tivemos um Brasil respeitado no mundo, acreditado pelo seu povo, com políticas públicas voltadas para reduzir desigualdades, com crescimento econômico ocorrendo equilibradamente junto ao desenvolvimento social. Um país que saiu da zona de pobreza com folga, situação para a qual ninguém, nem mesmo os opositores, imaginaria voltar. Ou pelo menos voltar tão cedo. Tudo foi se esmigalhando a partir de um processo eleitoral plantado no medo e na mentira. Numa vitória conduzida no colo pela banda podre do Judiciário, embalada por um atentado mal explicado e sacramentada pelo voto de um grupo de eleitores para quem valiam todos os meios para justificar o fim que era tirar o PT do poder.

O resultado dessa tragédia eleitoral é que o Brasil de Bolsonaro faliu. Política, ética, financeira, sanitária e moralmente. Tudo que o presidente no momento, ainda, em exercício tenha tocado foi contaminado pelo vírus da balbúrdia, do preconceito, do negacionismo, da violência e da corrupção. Este, o último bastião no qual abraçava para se dizer diferente dos corruptos comuns, o que nunca foi. Para usar o termo adotado pelos seus apoiadores, sua mais usada narrativa.

Vale sempre lembrar o conceito que do Centrão e de seus quadros os integrantes do regime militar de Bolsonaro sempre tiveram. Um dos líderes fardados mais emblemáticos do governo, o general Augusto Heleno, chegou a cantar, numa reunião de pares, ao se referir ao grupo político com quem prometia nunca se unir. “Se gritar ‘pega o ladrão’, não fica um, meu irmão”, desafinou, sendo aplaudido pela plateia.

Três anos depois, o repertório mudou. “Sobre o Centrão, aquela brincadeira que eu fiz foi numa convenção do PSL, na campanha eleitoral. Naquela época existia à disposição na mídia várias críticas ao Centrão. Não quer dizer que hoje exista Centrão. Isso foi muito modificado ao longo do tempo”, diria o general, numa reunião da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados. Desafinando ainda mais em sua desculpa esfarrapada.

A “Reunião de Bacana” (*) em que se transformou o governo Bolsonaro tem hoje todo o Centrão, em vários escalões e postos: na presidência da Câmara dos Deputados, no comando do Senado Federal, na liderança na Câmara, espalhados nos ministérios, entre os investigados da CPI da Pandemia por liderar um grupo especializado em malfeitos, no Ministério da Saúde.

* Samba de Ary do Cavaco e Bebeto de São João, interpretado pelo grupo Exportassamba”, disputou o Festival MPB Shell, da TV Globo, em 1980. O refrão grudento e até hoje atualíssimo, conferiu à canção a enorme popularidade que sempre desfrutou.

Escrito por:

Jornalista e compositor, com passagem por veículos como o Jornal do Commercio (PE) e as sucursais de O Globo, Jornal do Brasil e Abril/Veja. Teve colunas no JC, onde foi editor de Política e Informática, além de Gerente Executivo do portal do Sistema JC. Foi comentarista político da TV Globo NE e correspondente da Rádio suíça Internacional no Recife. Pelo JC, ganhou 3 Prêmios Esso. Como publicitário e assessor, atuou em diversas campanhas políticas, desde 1982. Foi secretário municipal de Comunicação. Como escritor tem dois livros publicados: "Bodas de Frevo", com a trajetória do grupo musical Quinteto Violado; e "Onde Está Meu Filho?", em coautoria, com a saga da família de Fernando Santa Cruz, preso e desaparecido político desde 1973. Como compositor tem dois CDs autorais e possui gravações em outros 27 CDs, além de um acervo de mais de 360 canções com mais de 40 músicos parceiros.

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