Resgatando o 7 de Setembro
No dia 7 de setembro de 2023 se comemora os 201 da proclamação da nossa independência pelo filho do Rei de Portugal, Dom Pedro I. Contam os livros de História que o jovem monarca, às margens do rio Ipiranga, teria erguido sua lustrosa espada e bradado um grito de ruptura contra a ordem vigente, estabelecida pelo seu progenitor, Dom João VI. Mas o que os livros tradicionais não contam, é que D. Pedro I, com seu “ato de bravura”, conseguiu mesmo foi preservar a dependência do Brasil ao reino português por longos 67 anos.
Mesmo com tanta controvérsia sobre o “grito de independência”, Dom Pedro I teve muito mais competência do que o mais recente protoimperador do Brasil. Lembro aqui, caros leitores, que o chefe do clã Bolsonaro, também na cidade de São Paulo e no mesmo dia 7 de setembro, mas de 2021, arvorando-se de líder totalitário, aos berros, ameaças e palavrões, anunciou o rompimento com um dos três poderes da república, o Poder Judiciário (no caso, o STF). Para a multidão de fanáticos de extrema-direita que assistia e aplaudia aquele espetáculo grotesco, dentre os quais alguns monarquistas (sim, isso existe), o presidente repetiu o “grito de independência”, que ecoou pela Avenida Paulista.
Naquele dia, o então Presidente afirmou, a plenos pulmões, a desobediência à Justiça: “Só saio preso, morto ou com vitória! Quero dizer aos canalhas que eu nunca serei preso… Dizer a vocês, que qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, este presidente não mais cumprirá.”
Mas a bravura de Bolsonaro não durou muito. Horas depois de atacar o STF e em especial o Ministro Alexandre de Moraes, a quem chamou de canalha, Bolsonaro, apavorado, mandou buscar, às pressas, o ex-presidente Michel Temer para intermediar um constrangido pedido de desculpas. Seguiu-se um telefonema e, bem ao estilo de Temer, uma carta – quem esqueceu da indigesta “Verba volant, scripta manent” (As palavras voam, os escritos permanecem).
Na carta pública de Bolsonaro, as ameaças golpistas e ataques foram atribuídos ao calor dos acontecimentos, nada mais que isso.
Mudou o governo, mas ameaças à república, levadas ao limite por Bolsonaro, ainda persistem. Muitas vezes utilizando a boca de oficiais do exército, envolvidos no projeto golpista de Bolsonaro e de seus seguidores mais aguerridos. Prova disto foi a tentativa malsucedida de golpe, ocorrida no dia 8 de janeiro deste ano, quando o projeto de ditador estava distante e protegido nas terras do Mickey Mouse, juntamente com sua mulher, o ajudante de ordens e as joias das arábias.
Finalmente chegamos a mais um 7 de setembro da história brasileira. Acuado pelas investigações da Polícia Federal, Bolsonaro fala pouco nas redes sociais, mas seus filhos continuam ativos na cruzada golpista do pai. O mais velho, Flavio Bolsonaro, em plena semana da Pátria, convoca os fanáticos seguidores da extrema-direita a doarem sangue, vestidos de verde e amarelo, na véspera do feriado. Para mentes extremistas e patologicamente fanatizadas, o risco é que soe como uma conflagração. Tão efetiva e plausível é a ameaça, que obrigou o Ministério da Justiça, Oficiais do exército e o Governador do Distrito Federal a mobilizarem milhares de homens para garantir a segurança de civis, na festa cívica do 7 de setembro de 2023. Ou seja, essa família segue onerando o Estado.
Tudo isso que vivemos e as ameaças que ainda pairam sobre a democracia, são o alto custo do golpe de 2016, que afastou uma presidenta eleita, sem crime de responsabilidade que justificasse. Seguiu-se a tal “Ponte Para o Futuro” de Temer, que na verdade nos lançou às portas do inferno do falso messias, cujo legado é o abismo social, a fome, a miséria, a violência extremada e cizânia entre as pessoas e as milhares de mortes na pandemia da Covid-19.
Como muito bem escreveu Nietzsche, “a insanidade é algo raro no indivíduo- mas em grupos, partidos, povos, épocas, é regra”. Torçamos para que o tempo de insanidade seja finalmente vencido e que os ideais republicanos voltem a povoar as mentes e corações dos brasileiros.