Rastros do orçamento podem levar PF até Lira
Não existe a menor dúvida de que muita coisa mudou no país desde o golpe de 2016. Principalmente no Congresso Nacional, mais especificamente na Câmara dos Deputados.
Sob o comando de Eduardo Cunha, o Centrão (grupo majoritário de parlamentares que tem como princípio defender apenas seus próprios interesses), afastou uma presidenta, sem crime de responsabilidade.
Durante os quatro anos do desgoverno de Jair Bolsonaro, o grupo se apossou das chaves do cofre do orçamento.
Nos últimos anos, Arthur Lira impôs ao Planalto um novo modelo de presidencialismo de coalizão, onde é ele, Lira, quem determina a condução até mesmo de questões especificas da administração federal, sem qualquer relação com as atribuições parlamentares.
Mas Lira sabe que Lula não é Bolsonaro, que tem estrada, experiencia de décadas como líder sindical e político. Lira sabe que para a preservação de seu raio de poder, é necessário que se encontre um denominador comum.
A questão é que os líderes da sua base estão acostumados com as facilidades da época de Bolsonaro. A mais recente crise do Centrão com o governo Lula, são as emendas destinadas ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Reportagem do Metrópoles mostra que os deputados reclamam que o governo não está cumprindo acordos para o pagamento destas emendas, acertados com Bolsonaro. Isso pode paralisar ou até mesmo cancelar obras prometidas aos eleitores na campanha de 2022. Essas emendas representariam 9 bilhões de reais, mas só 1,2 bilhão teria sido liberado até agora. O governo alega que os recursos não foram liberados em razão de entraves junto ao TCU. A Corte de contas aponta que as obras na área de educação teriam sido aprovadas sem critérios técnicos e sem orçamento para suas execuções.
Para forçar a liberação dessas emendas, os partidos do Centrão, que controlam 10 ministérios, têm imposto algumas derrotas importantes para o governo.
Mas chantagem política tem ganhado os noticiários e repercutido muito mal, e Lira se ressente disto. O presidente da Câmara tem sido exposto diuturnamente em suas raízes de político de baixo-clero. Seus aliados próximos, e muito próximos, diga-se, são investigados pela PF no superfaturamento de serviços pagos com recursos de emendas parlamentares. E a cada dia mais enlaçados nessa teia de corrupção.
Todos esses eventos se interligam, inclusive o desgaste do presidente da Câmara com a Operação Hefesto (kits de robótica), a venda de medicamentos a prefeituras de cidades de Pernambuco, comandadas pelo Centrão
Essas denúncias são como pedras nos sapatos de Lira. Quanto à operação Hefesto, os investigados têm sofrido derrotas no TRF 5. Tentaram levar o caso para o STF, pois um dos políticos citados é o deputado Gilvan Maximo (Republicanos-DF). Mas o processo no STF caiu na relatoria do Ministro Barroso, que como se sabe, não é suscetível a pressões políticas aos modos do centrão. O cenário que se desenha não é auspicioso para Lira. Seus aliados estão em maus lençóis e podem complicar a vida do dileto e poderoso conterrâneo.