Que papelão, Mourão!
Já disse e repeti o que reitero aqui: o general da reserva Hamilton Mourão, vice-presidente do Brasil, é um perigo maior que o presidente Jair Messias. E por uma razão muito simples: mais que conservador, Mourão é um reacionário sem remédio nem volta, admirador da ditadura e da tortura. Então, como pode ser mais perigoso?
Porque, ao contrário do titular, cuja boçalidade psicótica não faz mais que se aprofundar a cada dia, Mourão é articulado, tem opiniões próprias e firmes, é leal, se expressa de maneira clara e direta e demonstra algo que jamais fez parte da vida de Jair Messias: lucidez.
Mesmo quem, dentro das Forças Armadas, porventura tenha divergências com Mourão, saberá reconhecer esses aspectos de sua personalidade. Se isso se traduz ou não em influência, é impossível saber. Mas não soa a absurdo, e nem mesmo a algo improvável.
Por tudo isso, causa surpresa a facilidade com que o general Mourão, que passou para a reserva do Exército pela via natural suporta semelhantes humilhações diante do tenente Jair Messias, que só virou capitão porque, depois de evitar sabe-se lá como ser diretamente extirpado, passou para a reserva. E no Exército brasileiro, quem passa para a reserva é promovido um posto, exceto, claro, os que já estejam no topo da carreira.
É verdade que, com muita frequência e lucidez, Mourão diverge do seu chefe. Mas quando isso acontece, é de maneira leal e clara.
Bolsonaro, como todo psicopata, detesta ser contrariado ou enfrentado. E reage sempre com violência e sem controle.
Com Mourão, ele sabe que não pode ser violento. Então humilha.
Dois exemplos recentíssimos: Jair Messias disparou seu vice para Angola, com o pretexto de participar de algum evento relacionado aos países de língua portuguesa, como se o seu governo tivesse alguma preocupação ou interesse no assunto. A verdadeira missão de Mourão era resolver a crise provocada pelo governo angolano ao deportar drasticamente empresários dedicados a explorar a fé e a miséria alheias, os autonomeados bispos e pastores da multinacional brasileira mais lucrativa, a Igreja Universal do Reino de Deus, um dos pilares de apoio de Jair Messias.
Mourão foi recebido pelo presidente de Angola e ouviu um sonoro não. Mais que isso: ouviu um direto “nem toque nesse assunto”. Por que o general da reserva aceitou uma missão dessas? Respeito à hierarquia?
Será que não ocorreu a ele um “Queira me desculpar, presidente, mas não vou meter a mão nessa cumbuca com excremento até o topo”. Afinal, a missão encomendada não tem nada a ver com suas atribuições.
Pois nesta segunda-feira, outra humilhação: num programa de rádio, Jair Messias afirmou que a escolha de Mourão para ser candidato a vice-presidente aconteceu na última hora, a toque de caixa. Esqueceu de dizer que precisava de um militar influente para continuar recebendo apoio da tropa e manter o conluio iniciado pelo general Villas Boas em 2018.
Disse que o vice às vezes atrapalha. E explicou a razão que o impede de se livrar de Mourão: “É que nem o cunhado. Você casa e tem que aturar o cunhado ao seu lado. Não pode mandar o cunhado embora”.
Pois cabe uma pergunta: e o cunhado, não pode cair fora por decisão própria e manter algo de dignidade, nem que seja um resquício?
Neste caso específico, parece que o tal cunhado prefere manter as muitas benesses do posto. E a dignidade que se dane.
Dane-se a chuva de humilhações que certamente continuará a cair sobre sua existência. O que importa são as benfeitorias pessoais recebidas.
E continuar participando de um governo militarizado que não faz mais que emporcalhar a imagem das Forças Armadas a cada dia que passa justamente por se submeter aos desvarios do psicopata Genocida – além da cumplicidade criminosa em tudo que acontece de horror, é claro.