Pedro Guimarães tentou impor na Caixa o programa Meu Emprego Minha Vagina
Nos últimos dias, o Palácio do Planalto mais se assemelha a uma padaria, de onde saem fornadas de medidas do mais rasteiro populismo, na tentativa de conter a evasão de votos retratada nas pesquisas. A fotografia revelada e emoldurada do desespero ou, se preferirem, o recibo com firma reconhecida da culpa no cartório, para as acusações e evidências trazidas a público sobre os desvios de verba e utilização do MEC para benefício de igrejas e pastores. Os artifícios vão da compra do silêncio e de votos favoráveis via orçamento ilegal, a medidas que irão impactar o PIB, já calculadas em cerca de 1%.
Para complicar ainda mais, surgiu, no dia em que Bolsonaro tentava escapar da abertura da CPI do MEC, um mega escândalo que influi diretamente o campo feminino do eleitorado, que já deu as costas para ele – 49% desse universo, calculado pelo TSE em 53% –, já externou intenção de voto no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pedro Guimarães, o presidente da Caixa Econômica Federal, que chegou a ser cogitado para a vaga de vice-presidente na chapa de Bolsonaro, fechou o dia de ontem nas principais notícias, acusado de assédio sexual.
Em atitude só comparada a cenas de filmes de ação, Bolsonaro agiu de forma fulminante. Mandou demitir Guimarães. Eficiência? Não. Tentativa barata de conquistar votos da parcela que ele demonstrou desprezar durante todo o seu governo, por pensamento, palavras e obras. Principalmente palavras, dirigidas a deputadas: “não estupro você porque não merece”. Ou a jornalistas: “Cala a boca. Pare de fazer perguntas idiotas”, para a repórter da Folha e “Ela quer dar o furo”, para a jornalista Patrícia Campos Mello”, cujo processo movido contra ele será julgado hoje. E não se espera outro resultado, a não ser o de vitória para ela, humilhada e ameaçada por ele sua base de robôs.
Estatísticas sobre o universo do Eleitorado, publicada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), dão conta de que 76.534.83 mulheres votaram na última eleição, quase 53% do total de 146.470.880 eleitores no País. Que medo você tem de nós! (Só repetindo Paulo Cesar Pinheiro).
Eram esses os números que estavam no colo do presidente, ao tomar a decisão. Não eram os nomes das cinco mulheres que tomaram coragem de vir a público contar cenas repugnantes vividas sob o comando do presidente da CEF. A mesma CEF que em governos Lula/Dilma, impulsionaram o programa “Minha Casa Minha Vida”, agora estava sob o risco do projeto: “Meu emprego Minha vagina”.
Em 2018 Pedro Guimarães foi demitido do grupo Santander por “machucar” uma colega de trabalho. Talvez tenha sido esse o ponto do seu currículo que mais contou para a sua admissão no governo de Bolsonaro, que não esconde o seu desprezo pelas mulheres. Considera a filha “uma fraquejada” e em eventos públicos costuma dirigir-se a elas com a frase: “vai para trás, meu Deus do Céu”.
Não há tempo eleitoral para que ele se transmute em defensor do gênero feminino. Tampouco a medida de retirar dos seus quadros o predador Guimarães nos leva a crer que se condoeu com os relatos, diante dos quais pode ter dado boas risadas. Mas já é um alívio saber que o senhor Pedro Guimarães não possui mais o poder de submeter aos seus avanços, funcionárias que certamente só estavam ali para defender o salário, a dignidade dos seus cargos e a intimidade dos seus corpos. Corpos, esses, conspurcados pelas expressões, convites e mãos imundas desse senhor que deve ser do tipo que faz xixi e não as lava, porque considera o seu pinto ferramenta de trabalho.
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