Ministro Braga Netto e as Forças Armadas (Foto: Alan Santos/PR | Marcos Corrêa/PR)

“Pantim” das Forças Armadas pode ser senha para o golpe bolsonarista

8 de julho de 2021, 12:51

Não dá pra entender o que provocou o beicinho dos chefes das Forças Armadas na fala do presidente da CPI da Pandemia, senador Omar Aziz. Não disse nada demais o parlamentar. Sua pontuação foi normal e respeitosa com a banda que, de fato, merece respeito de nossas armas. Imagina-se que este segmento, digamos, “do bem”, do Exército, da Marinha e da Força Aérea deve ter encarado o pronunciamento com naturalidade e até com certa gratidão. Afinal, Aziz dirigiu sua justa indignação à “banda podre”, o que tem em toda e qualquer atividade e não seria diferente na caserna.

O lado sombrio da força (a armada, inclusa) existe e ganhou um prestígio inaudito num governo civil quando aceitou se acordeirar sob as garras daquele que um dia o Exército Brasileiro enxotou, por indisciplina e por inadequação. O que foi enxovalhado pelos próprios pares tornou-se um político tosco e retrógrado, com décadas de parlamento, sem nada de útil para mostrar ou juntar no seu currículo. Só uma longa trajetória marcada pelo autoritarismo, pelo preconceito, pelo saudosismo da ditadura e dos ditadores.

Esse grupo, que hoje se dói com as palavras de um senador, saltou serelepe para a barca do tenente reformado e expelido do Exército, quando este, a bordo de uma campanha suspeita e violenta, sagrou-se presidente da República. Grande parte dos bolsonaristas militares ganhou cargos no governo. Como ministros e como auxiliares de escalões variados.

Essa enxurrada de militares que ascendeu ao poder com Jair Bolsonaro, aliou-se, por conseguinte, aos mesmos políticos que execrava, de forma aberta e clara, como é o caso do Centrão e quejandos. A começar por integrantes do primeiríssimo escalão, os mesmos que chamavam o Centrão de quadrilha de ladrões e bandidos. A mesma “quadrilha” que, hoje, compõe o braço político do governo federal, ou seja, do governo militar que se formou com Bolsonaro.

O grupo militar do governo jactava-se, até então, de ser “incorruptível”, pecha que o presidente da República também se concedia, sobretudo quando queria assacar contra os seus adversários políticos e governos que o sucederam, em especial os do PT. O tempo provou que tudo não passava de mais uma falácia do bolsonarismo. O noticiário dos últimos tempos mostra Bolsonaro, sua família e seu governo enfiados até o pescoço em denúncias de em falcatruas que vão desde a tungagem do salário de funcionários, a popular “rachadinha”, a negócios cruéis e milionários envolvendo a compra de vacinas, no momento em que o país supera os 520 milhões de mortos pela falta dessas vacinas.

E aí chega a CPI da Pandemia, ou do Genocídio, e desnuda mais de 20 militares já envolvidos com corrupção e vários matizes de negociatas com vacinas, medicamentos e equipamentos que deveriam estar abastecendo a luta contra a Civid-19, mas enriquecem uma pequena ruma de espertalhões. Foi desse grupo e dessas falcatruas que falou Omar Aziz, ressalvando os militares corretos e tirando-os do grupo “podre”. Uma ressalva elogiosa à maior parte das Forças Armadas, desde que recebida com serenidade, normalidade e sem fricote. Ou como se diz no Recife, sem “pantim”.

Nesse contexto, a nota das Forças Armadas, encabeçada pelo ministro da Defesa, co-assinada pelos ministros do Exército, Marinha e Força Aérea e com enormes possibilidades de ter sido inspirada, ou até mesmo determinada, pelo seu comandante-em-chefe, é exagerada, descabida e preocupante. No clima que Bolsonaro está impingindo ao país, uma senha para os assanhados adeptos do “mito”, inclusive os armados pelo “liberou geral”, marcarem dia e hora para o golpe de Estado.

Escrito por:

Jornalista e compositor, com passagem por veículos como o Jornal do Commercio (PE) e as sucursais de O Globo, Jornal do Brasil e Abril/Veja. Teve colunas no JC, onde foi editor de Política e Informática, além de Gerente Executivo do portal do Sistema JC. Foi comentarista político da TV Globo NE e correspondente da Rádio suíça Internacional no Recife. Pelo JC, ganhou 3 Prêmios Esso. Como publicitário e assessor, atuou em diversas campanhas políticas, desde 1982. Foi secretário municipal de Comunicação. Como escritor tem dois livros publicados: "Bodas de Frevo", com a trajetória do grupo musical Quinteto Violado; e "Onde Está Meu Filho?", em coautoria, com a saga da família de Fernando Santa Cruz, preso e desaparecido político desde 1973. Como compositor tem dois CDs autorais e possui gravações em outros 27 CDs, além de um acervo de mais de 360 canções com mais de 40 músicos parceiros.

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