Os cinco minutos de choro de Bolsonaro
No dia 29 de janeiro deste ano, Jair Bolsonaro se derramou em lágrimas por longos cinco minutos numa conversa com Silas Malafaia. E foi o próprio pastor quem revelou a história à jornalista Mônica Bergamo. Bolsonaro teria chorado copiosamente por medo de uma possível prisão.
Na manhã daquele dia, a PF cumpria mandados de busca e apreensão na casa do ex-presidente em Angra dos Reis, na esteira da investigação da possível participação de Bolsonaro na instalação da “Abin Paralela”. Bolsonaro e seus filhos, que não foram encontrados pela polícia, teriam saído de Jet Ski para pescar às cinco da manhã.
Imaginem só a cena de Bolsonaro ao celular, com o corpo e o rosto molhados pela água do mar e pelo mar de lágrimas. Um choro que nunca derramou pelas mais de 700 mil vítimas da COVID, de cujo sofrimento fazia piadas.
As revelações de Malafaia não pararam no chororô, ele fez duras críticas a Bolsonaro por ter apoiado, ao mesmo tempo, Marçal e Ricardo Nunes para prefeitura de São Paulo. Malafaia questionou: “Que líder é esse? Sinal dúbio para o povo? Líder toma frente, líder dá a direção…Quem vai fazer aliança com um cara que não é confiável?”
Mas qual teria sido o estopim para Malafaia disparar esses ataques ao líder da extrema-direita que ele tanto defendeu?
A questão é a preservação dos fiéis da sua igreja e de outras pentecostais pelo país e tentar proteger seu protagonismo político.
Marçal, como candidato, alcançou boa parte desses evangélicos com seu discurso de líder de uma nova seita, que nega a importância das igrejas. Isso incomodou profundamente Silas Malafaia, que chegou a afirmar que Marçal era psicopata e oportunista. Foi além, disse que o coach não é evangélico.
Malafaia não ignora que Marçal conhece e sabe usar como ninguém as redes sociais, que conhece e faz uso dos bordões e do léxico evangélico, que Bolsonaro desconhece. Ou seja, o medo de alguns pastores e de Malafaia é de um racha na direita conservadora, entre os evangélicos.
Imaginem o prejuízo causado aos pastores por um candidato que tenta convencer os fiéis de que não é preciso ir à igreja e nem pagar o dízimo. Imaginem o prejuízo da disseminação no meio evangélico do discurso de Pablo Marçal, focado no individualismo, no poder da própria vontade como propulsora da prosperidade tão ansiada. Marçal defende que seus seguidores não precisam de nada e nem de ninguém, além da própria vontade (e de pagar por seus cursos, é claro!).
Em plena campanha eleitoral, Malafaia se deu conta de que a parceria de sua igreja com Bolsonaro estava chegando ao fim. E de que sua igreja estava seriamente ameaçada pelo discurso de Marçal.
Malafaia nem esperou o segundo turno e uma possível vitória de Ricardo Nunes para manifestar publicamente a fidelidade ao governador Tarcísio de Freitas. É o momento em que a cria (Tarcísio) supera o criador (Bolsonaro). Sem a caneta de presidente, inelegível e perto de ser indiciado, Bolsonaro pode preparar o lenço para limpar as lágrimas pois, se as coisas continuarem nessa toada, não terá nem o ombro do pastor para consolá-lo.