(Foto: Reprodução)

O país da tragédia naturalizada

27 de novembro de 2022, 10:14

Nos Estados Unidos, onde a liberação das armas explica a sucessão de ataques armados a escolas, com inúmeras mortes, ninguém esquece os traumas provocados por eles.

Há 23 anos, em 1999, houve o Massacre de Columbine, no Colorado, EUA, quando dois ex-alunos, de 17 e 18 anos, invadiram uma escola, atirando com escopeta, deixando o saldo de 13 mortos, inclusive os criminosos. 

Mas a mídia americana não esquece, a produção cultural não esquece, o povo não esquece e, sobretudo, as pessoas ligadas às vítimas não esquecem. 

O Massacre de Realengo, há 11 anos, na Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro de Realengo, RJ, foi cometido por um ex-aluno fortemente armado, havendo também 13 mortos, o assassino entre eles.

Com a invasão das escolas, em Aracruz, por um jovem atirador de 16 anos, com suásticas na farda camuflada e quatro mulheres mortas como “troféus”, o massacre de Columbine foi mais lembrado pela mídia brasileira do que o da escola de Realengo. O motivo?

No Brasil dos assassinatos em série, de montão, sem se apontar culpas nem culpados, sem investigação, punição, sequer emoção, o sacrifício humano é naturalizado. Assim como são naturais as torturas, a fome, a injustiça. 

Somos um povo endurecido por nossas tragédias crônicas. Não tivemos grandes guerras pontuais para nos traumatizar. Nossa guerra é contínua, nossos traumas são o normal, estão em nosso DNA. 

Em vez de levar cobertor para o mendigo indigente em nossa calçada, mandamos o porteiro dar nele uma ducha gelada. Em vez de socorrer o corpo estendido na rua, saltamos sobre o possível cadáver, para ver melhor a vitrine. Este é o rosto do nosso horror.

O menino capixaba,16 anos, usou armas do pai, policial militar, @tenente_fabio_psicanalista. Ele agiu talvez movido pela influência desse pai tenente, um admirador de Hitler, conforme está em seu Instagram. O tenente Fábio é mais um desta atual safra de “patriotas”. 

O olhar da mídia? O Estadão ilustra a matéria com uma mão negra, empunhando uma pistola, e o assassino é branco, provável supremacista! 

Quanto tempo o Massacre de Aracruz será notícia? Uma semana? 

Um mês, se tanto…

Escrito por:

Formação acadêmica: Conservatório Nacional de Teatro 1967-1969, Rio de Janeiro
Jornalista, atriz e diretora do Instituto Zuzu Angel/Casa Zuzu Angel - Museu da Moda. Manteve colunas diárias e semanais, de conteúdos variados (sociedade, comportamento, cultura, política), nos jornais Zero Hora (Porto Alegre), O Globo, Última Hora e Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), onde também editou o Caderno H, semanal.
Programas de entrevistas nas TVs Educativa e Globo.
Programas nas rádios Carioca e Paradiso.
Colaborações e/ou colunas nas revistas Amiga, Cartaz, Vogue, Manchete, Status, entre outras publicações).
Atriz de Teatro, televisão e cinema, de 1965 a 1976
Curadoria de Exposições de Moda: Museu Nacional de Belas Artes, Museu Histórico Nacional, Itau Cultural, Paco Imperial, Casa Julieta de Serpa, Palacio do Itamaraty (Brasilia), Solar do sungai (Salvador).
Curadoria do I Salao do Leitor, Niterói

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