(Foto: Isac Nóbrega/PR)

O golpe passeou de moto pelas ruas de São Paulo

14 de junho de 2021, 12:18

De inspiração fascista, certos atos públicos com intuito de comprovar uma pseudo popularidade dos seus líderes continuam sendo a cereja podre do bolo azedo do atual e momentâneo governo brasileiro. Nem aí para mais de meio milhão de mortos por uma pandemia que ele não soube ou não quis combater, o presidente da República faz o que lhe é de praxe: esbanjar boçalidade e dinheiro público em eventos que, no julgamento dele, atestam a ele apoio e prestígio.

A bola da vez nesse show de horrores são as “motociatas”, aglomerações sobre duas rodas ao arrepio da lei e um crime premeditado contra a saúde pública ditada, entende-se, por seu próprio Ministério da Saúde. A última dessas patacoadas ocorreu no sábado, em São Paulo. Logo os bolsonaristas chamaram o ajuntamento de “a maior concentração de motos do mundo”, chegando a mentir – verbo fácil no governo federal e junto a seus apoiadores  – sobre um hipotético e relâmpago atestado do Guiness Book.

Na mussolinesca concentração de motocicletas houve uma farta distribuição de multas por irregularidades de trânsito e por infrações sanitárias. O presidente e o filho dele deputado federal, cinco deputados e três ministros de Estado, o de Meio Ambiente (aquele da “boiada”, que responde por crimes ambientais), o de Infraestrutura e o de Ciência e Tecnologia (que mal se sabe o que faz no governo), foram multados por não usarem máscara. Várias motos tinham suas placas encobertas. Nessa prática largamente adotada no submundo do crime, inclui-se a moto do presidente da República. O que lhe rendeu uma multa, diga-se de passagem.

Ruim para os mentirosos é a tecnologia, hoje disponível à larga. Assim, não há como ficar montando foto simulando um número de motociclistas que não existiu. Internet, drones e gente com disposição para desmascarar fanfarrão é o que não falta. Assim, deu pra ver que a criminosa aglomeração teve de muito foi irresponsabilidade, inconsequência e acidentes. No mais, um crime perpetrado de maneira covarde contra a memória de 500 mil vítimas e contra famílias dos mortos.

Como não podia deixar de ser, afinal trata-se de uma campanha política antecipada (correto, TSE?), a insanidade sobre rodas culminou com um comício no Parque do Ibirapuera. E aí, o enredo de sempre, mais crimes contra a Constituição, pregações antidemocráticas, agressões verbais ao Judiciário e aos adversários do Legislativo, defesas ardorosas de intervenção militar, tudo estampado nas faixas, nos cartazes e nas palavras. E aí, STF?

Enfim, o golpe em marcha e na garupa de motocicletas pilotadas por gente para quem a lei e a democracia valem tanto quanto o número de mortos pela Covid-19. Nada.

Escrito por:

Jornalista e compositor, com passagem por veículos como o Jornal do Commercio (PE) e as sucursais de O Globo, Jornal do Brasil e Abril/Veja. Teve colunas no JC, onde foi editor de Política e Informática, além de Gerente Executivo do portal do Sistema JC. Foi comentarista político da TV Globo NE e correspondente da Rádio suíça Internacional no Recife. Pelo JC, ganhou 3 Prêmios Esso. Como publicitário e assessor, atuou em diversas campanhas políticas, desde 1982. Foi secretário municipal de Comunicação. Como escritor tem dois livros publicados: "Bodas de Frevo", com a trajetória do grupo musical Quinteto Violado; e "Onde Está Meu Filho?", em coautoria, com a saga da família de Fernando Santa Cruz, preso e desaparecido político desde 1973. Como compositor tem dois CDs autorais e possui gravações em outros 27 CDs, além de um acervo de mais de 360 canções com mais de 40 músicos parceiros.

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