O Gato e o Galo
Não, os militantes antifascistas do pós-golpe de 2016 não são, como alguns esperavam, os estudantes dos institutos federais que desfrutam dos acessos multiplicados ao ensino superior pelos governos de Lula e Dilma.
Os militantes antifascistas que põem fogo no Borba Gato são os motoboys de aplicativos, a expressão do trabalho precarizado por exploradores que não pagam salários, nem férias, nem FGTS, não pagam nada além dos centavos por quilômetros rodados.
Os antifascistas são ex-estudantes que pararam de estudar para se virar sobre motos e bikes. Poderiam estar praticando apenas a militância trabalhista, em nome da categoria.
Poderiam estar lutando por direitos que talvez nunca venham a ter, mas se meteram com questões políticas profundas, mesmo que apenas teóricas, simbólicas e, para alguns, até irrelevantes.
Ao ser preso nesta quarta-feira, Paulo Roberto da Silva Lima, o Paulo Galo, líder dos motoboys, admitiu ter participado do ataque à estátua.
Foi, disse ele, “para abrir o debate” de outra forma, porque a tentativa de retirada da estátua não vinha funcionando pelas vias ditas democráticas.
Temos de novo os trabalhadores propondo ações e reflexões que estudantes já não conseguem fazer. Mas não o clássico trabalhador assalariado, que enfrentava as fábricas e os bancos, nesse meio que produziu Lula e todo o lastro de construção orgânica do PT.
O motoboy dos aplicativos é o suburbano talvez nem tão suburbano e o pobre que também é da nova classe média empurrada para as ruas pelo fim dos empregos. Quantos sonharam em virar empreendedores.
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