O destino de Dino
Parte dos jornalistas que foram ao café com o presidente Lula na sexta-feira saiu com a impressão de que ele está prestes a nomear o ministro Flávio Dino para o STF, depois de ouvir os elogios que fez ao auxiliar. Outro número considerável entendeu exatamente o seu contrário: Dino fica na Justiça. Lula é assim mesmo, mestre no dom de iludir quando não quer antecipar decisões que ainda não amadureceu. Tudo pode mudar, mas aos preços de hoje as apostas de “lulólogos” experientes são de que o presidente não vai indicar o ministro para o Supremo — ao menos nessa vaga.
Antes de tudo, pela dimensão que Dino adquiriu dentro do governo desde seus primeiros dias, quando coordenou a reação rápida e eficiente ao 8/1, assumindo a linha de frente da articulação governista. De lá para cá, o ministro da Justiça também passou por maus momentos, comprou brigas no Congresso, despertou ciúmes na Esplanada, foi enquadrado algumas vezes pelo Planalto. Mas não deixou de ser, ao lado do colega da Fazenda, Fernando Haddad, um dos sustentáculos da gestão Lula 3.
Talvez justamente por isso tanta gente, inclusive no PT, defenda sua indicação para o STF. Nessa toada, que inclui o maior contingente de seguidores nas redes sociais da Esplanada, o midiático Dino se credencia a uma candidatura presidencial — ou a vice — assim que houver oportunidade, ou seja, quando o presidente Lula não for mais candidato, em 2026 ou em 2030.
Lula sabe disso e, se quiser agradar seu partido, indicará o ministro para o STF e nomeará um petista para a Justiça — pasta que nunca despertou cobiça entre políticos mas que, agora, depois do sucesso de Dino, parece estar dando água na boca. Mais ainda porque o ministro é o último obstáculo à sua divisão e à criação do Ministério da Segurança, promessa de campanha. A dúvida entre os próximos de Lula é se ele, em nome da armação política futura, abriria mão de um ministro fundamental no presente, que deixaria um vazio no governo — além de abrir outra desgastante disputa em torno do cargo vago, ou cargos.
A questão ficou mais delicada ainda para o governo em função da cobrança, com urgência, de uma ação efetiva e organizada para socorrer o Rio, dominado pelo terror e pelas milícias. É preciso agir e o Planalto sabe que de nada adiantará anunciar soluções pirotécnicas, como a intervenção de Temer no estado, que colocou a segurança na mão dos militares. Deu no que deu, até porque soltou uma mosca azul que mordeu os fardados e os levou de volta ao centro do picadeiro.
Criar um novo ministério para cuidar da segurança pública também cheira, nesse momento, a medida marqueteira que, na prática, não resolve grande coisa. O que pode resolver é um plano para reforçar a atuação da Polícia Federal e da PRF no Rio, sobretudo na área de inteligência, para seguir o dinheiro e as pistas que podem levar ao crime organizado. Dar mais recursos para a segurança do estado também ajuda, assim como empregar as Forças Armadas em sua área de atuação constitucional: intensificar a vigilância da Aeronáutica nos aeroportos, da Marinha nos portos e do Exército nas fronteiras no combate ao narcotráfico.
Isso é mais ou menos o que Dino andou conversando com colegas de Ministério nos últimos dias, e que provavelmente vai expor hoje, com outras medidas, em reunião com o presidente Lula e outros ministros. É possível que, depois disso, haja um anúncio formal da operação, que, no nível federal, teria o comando óbvio do ministro da Justiça. Contrariando expectativas, ele sairia da reunião fortalecido no cargo, dando a Lula ótima justificativa para não nomeá-lo para o STF neste momento.
Em tempo: o próprio Flavio Dino, um ex-juiz que nunca diria “näo” a um convite para integrar a Corte Suprema do país, não ficaria, segundo pessoas próximas, nada insatisfeito se o convite não vier desta vez. Afinal, hoje tem nas mãos um ministério importantíssimo, mais de sete anos de mandato no Senado Federal dados pelo povo do Maranhão e, principalmente, um caminho promissor rumo a vôos eleitorais mais altos.