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O 31 de março e o general da educação

31 de março de 2022, 14:26

Os militares que compartilham o poder e os corredores de Brasília com pastores traficantes de verbas e barras de ouro deveriam conhecer a história de um general gaúcho da região da campanha.

Um general do Alegrete, a terra dos latifúndios e de Osvaldo Aranha, João Saldanha, Mario Quintana, Lila Ripoll, Paulo Cesar Pereio.

Eram temidos os militares do Alegrete nos anos 70 da ditadura. A cidade de 60 mil habitantes tem seis quartéis. Soldados vindos de todo lado, com sotaques e chiados variados, andavam em enxames pelas ruas.

Temiam no Alegrete os tenentes R2 que metralharam o Clube Caixeiral em 1972. Alegrete era uma cidade de milicos atrevidos.

Mas ninguém temia o general Alcy Vargas Cheuiche. O general que lutou para que Alegrete e a fronteira gaúcha tivessem uma universidade.

Era presidente da Fundação Educacional de Alegrete, mantenedora do colégio Emílio Zuñeda e da Faculdade de Economia, que depois virou a Urcamp. Mas Cheuiche queria mais, queria algo grandioso, do tamanho de uma UFSM, a Universidade Federal de Santa Maria.

Não havia como temer o general Cheuiche. Era assertivo, mas suave. Era cordial, respeitoso. Cheuiche era o que chamavam antigamente de homem fino.

Ele e dona Zilah recebiam em casa os perseguidos pela ditadura. Era um militar, com postura de militar, mas só falava de educação. Foi o general da educação.

Aquele descendente de libaneses teria vergonha hoje se visse colegas generais convivendo com destruidores das universidades federais e da educação.

A cada 31 de março me lembro do general pai do grande escritor gaúcho Alcy José de Vargas Cheuiche. O militar morreu em 1998 aos 94 anos. Foi de um tempo em que no Alegrete (que já foi de Qorpo Santo, Mario Quintana, Lila Ripoll, Paulo Cesar Pereiro, Osvaldo Aranha, Tyrteu Vianna, Laci Osório e Guto Pereira) até os generais eram transgressores.

Há muitos anos Alegrete é uma cidade que acolhe fascistas de toda parte. A ordem do dia do 31 de março deve estar sendo lida em voz alta, e por civis, na praça do Alegrete.

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

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