No armário de Anderson Torres, uma conspirata de república de bananas
Não se sabe ainda se por esquecimento ou inépcia, Anderson Torres deixou que o santo graal do bolsonarismo, a incrível minuta de um golpe de Estado, caísse nas mãos da Polícia Federal – e na boca do povo – sem antes ter bolado uma desculpa minimamente decente. Enfiado em algum buraco da periferia da Disney, o ex-ministro da Justiça deixou no armário de casa uma bomba de nêutrons que alargou em escala planetária as possibilidades de Jair Bolsonaro ser deportado dos Estados Unidos e colocado, na Papuda, ao lado dos cretinos cevados pelo ódio que ele com tanto cuidado espalhou. O papel, disse Anderson, era só uma ideia a ser triturada.
Anderson é delegado de Polícia Federal, mas fez carreira assessorando uma das figuras mais nefastas da política brasileira, o ex-deputado federal de extrema direita Fernando Francischini, também delegado federal, cassado por produzir e disseminar desinformação contra o sistema eleitoral, em 2021, quando exercia mandato de deputado estadual, no Paraná.
É um homem vaidoso, de aparência cartunesca, quase cômica, que cultiva pequenas e retilíneas costeletas sob as têmporas. Tinha grandes sonhos, ser ministro de tribunal superior, senador, governador do Distrito Federal, mas, agora, foram-se todos. Aliado de primeira hora do bolsonarismo, mesmo antes dos acontecimentos de 8 de janeiro já estava sob a mira da Justiça.
Ao lado do presidente, numa live, ouviu todo tipo de barbaridade sobre as urnas eletrônicas sem tomar nenhuma atitude, nem física nem moral. No início da semana, tornou-se foragido do Judiciário brasileiro quando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mandou prendê-lo sob a acusação de planejar a arruaça que resultou na destruição de prédios públicos e colocou em risco a vida de autoridades e cidadãos de Brasília.
Com a descoberta da minuta com a mirabolante proposta de instauração de Estado de Defesa na sede do TSE, impressa e pronta para ser assinada por Jair Bolsonaro, o ex-ministro tornou-se o epicentro de uma conspirata de república de bananas que pretendia, via decreto, anular a vitória eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. O documento previa a quebra dos sigilos dos ministros do TSE e um roteiro de aparelhamento militar do tribunal, perseguições e prisões para garantir a volta triunfal do mito.
Pelo visto, Anderson será triturado antes da minuta. E Bolsonaro com ele.