Mudando para não mudar
Por volta das duas da tarde da quinta-feira 9 de dezembro foi expelido do cargo de Ministro do Turismo a criatura com nome de galã de radionovela lá de 1950, Marcelo Álvaro Antônio. Foi o décimo primeiro ministro a ser defenestrado por Jair Messias em dois anos.
Sua contribuição para o turismo brasileiro foi nula. Já como ministro responsável pela secretaria Especial de Cultura, jogada em seus braços ineptos, foi imensa sua contribuição para o desmantelamento não só da estrutura do governo para a área, como também para o estrangulamento das artes e da cultura do país.
Sobram motivos para ter sido expelido, a começar pelo escândalo do laranjal controlado por esse até agora opaco Marcelo Álvaro Antônio.
Denunciado, entre outras coisas, por formação de associação criminosa, além de ter mergulhado a mão no pote de dinheiro eleitoral, ele ficou no maior sossego ao longo de quase dois anos.
O que levou Jair Messias a catapultá-lo da cadeira ministerial não tem nada a ver com desvio de dinheiro. Afinal, para quem contempla uma família, a própria, especializada em nomear fantasmas como assessor parlamentar e embolsar seus salários, inventar candidaturas falsas para abocanhar verba eleitoral é coisa pouca.
O laranjeiro foi expelido porque bateu boca com um general que ocupa um gabinete no Palácio do Planalto, Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo. E Jair Messias já avisou que não quer saber de briga entre sua matilha: basta seu próprio descontrole.
Marcelo Álvaro Antônio volta agora para a Câmara de Deputados, onde, além de um oceano de mordomias, será aquinhoado com imunidade parlamentar, que deverá mantê-lo distante das celas de uma cadeia qualquer.
Vem aí, portanto, novo ministro, em mais uma mudança no governo. E, na verdade, quem virá não tem a mais remota importância. Indicado ou não por algum partido integrante do Centrão, aquela aglomeração de grupos especializados em trocar apoio a todo e qualquer governo a troco de verbas e cargos, seu nome será aprovado por Jair Messias desde que ostente um currículo nulo e saiba ser obediente se quiser abocanhar recursos públicos.
Quanto ao futuro da secretaria Especial de Cultura, qualquer esperança de melhora, por mais ínfima que seja, soa a exagero.
Basta ver com que tamanha eficiência uma senhora que atende pelo nome de Letícia Dornelles e foi contemplada, por indicação do deputado Marco Feliciano, um desses autonomeados pastores que não passam de mercadores da fé alheia, trata de destruir a Casa de Rui Barbosa.
Seu mérito para merecer o cargo é semelhante ao do general Eduardo Pazuello para ocupar o ministério da Saúde: nulo.
Pois essa nulidade ambulante vem cumprindo com brilho exemplar a missão recebida, que é a de destroçar décadas de história e tratar de destruir a própria instituição que preside. Igualzinho a Jair Messias, com a diferença de que ele preside um país.
Para dar novas mostras de seu empenho na missão destroçadora, ela resolveu ir até a polícia. Isso mesmo: a polícia. Prestou queixa crime por injúria contra pesquisadores da Casa de Rui, entre eles nomes mais que respeitáveis, José Almino de Alencar, Alexandre Herculano Lopes e Flora Süssekind, que aliás se aposentou assim que a apadrinhada pelo mercador de fé começou a mostrar o ânimo com que se entregaria à tarefa recebida.
Além de tudo, é preciso reconhecer que Letícia Dornelles se esmera em sair do mais que justificável anonimato para disputar – e esta é uma batalha especialmente dura – um lugar de destaque entre as aberrações mais abjetas que saltitam ao redor do aprendiz de Genocida.
Mais que desprezo, essa senhorinha me desperta asco. Muito asco.