(Foto: Marcos Correa/PR)

Mudando para não mudar

9 de dezembro de 2020, 18:41

Por volta das duas da tarde da quinta-feira 9 de dezembro foi expelido do cargo de Ministro do Turismo a criatura com nome de galã de radionovela lá de 1950, Marcelo Álvaro Antônio. Foi o décimo primeiro ministro a ser defenestrado por Jair Messias em dois anos.

Sua contribuição para o turismo brasileiro foi nula. Já como ministro responsável pela secretaria Especial de Cultura, jogada em seus braços ineptos, foi imensa sua contribuição para o desmantelamento não só da estrutura do governo para a área, como também para o estrangulamento das artes e da cultura do país.

Sobram motivos para ter sido expelido, a começar pelo escândalo do laranjal controlado por esse até agora opaco Marcelo Álvaro Antônio. 

Denunciado, entre outras coisas, por formação de associação criminosa, além de ter mergulhado a mão no pote de dinheiro eleitoral, ele ficou no maior sossego ao longo de quase dois anos. 

O que levou Jair Messias a catapultá-lo da cadeira ministerial não tem nada a ver com desvio de dinheiro. Afinal, para quem contempla uma família, a própria, especializada em nomear fantasmas como assessor parlamentar e embolsar seus salários, inventar candidaturas falsas para abocanhar verba eleitoral é coisa pouca.

O laranjeiro foi expelido porque bateu boca com um general que ocupa um gabinete no Palácio do Planalto, Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo. E Jair Messias já avisou que não quer saber de briga entre sua matilha: basta seu próprio descontrole.

Marcelo Álvaro Antônio volta agora para a Câmara de Deputados, onde, além de um oceano de mordomias, será aquinhoado com imunidade parlamentar, que deverá mantê-lo distante das celas de uma cadeia qualquer.

Vem aí, portanto, novo ministro, em mais uma mudança no governo. E, na verdade, quem virá não tem a mais remota importância. Indicado ou não por algum partido integrante do Centrão, aquela aglomeração de grupos especializados em trocar apoio a todo e qualquer governo a troco de verbas e cargos, seu nome será aprovado por Jair Messias desde que ostente um currículo nulo e saiba ser obediente se quiser abocanhar recursos públicos.

Quanto ao futuro da secretaria Especial de Cultura, qualquer esperança de melhora, por mais ínfima que seja, soa a exagero. 

Basta ver com que tamanha eficiência uma senhora que atende pelo nome de Letícia Dornelles e foi contemplada, por indicação do deputado Marco Feliciano, um desses autonomeados pastores que não passam de mercadores da fé alheia, trata de destruir a Casa de Rui Barbosa.

Seu mérito para merecer o cargo é semelhante ao do general Eduardo Pazuello para ocupar o ministério da Saúde: nulo. 

Pois essa nulidade ambulante vem cumprindo com brilho exemplar a missão recebida, que é a de destroçar décadas de história e tratar de destruir a própria instituição que preside. Igualzinho a Jair Messias, com a diferença de que ele preside um país.

Para dar novas mostras de seu empenho na missão destroçadora, ela resolveu ir até a polícia. Isso mesmo: a polícia. Prestou queixa crime por injúria contra pesquisadores da Casa de Rui, entre eles nomes mais que respeitáveis, José Almino de Alencar, Alexandre Herculano Lopes e Flora Süssekind, que aliás se aposentou assim que a apadrinhada pelo mercador de fé começou a mostrar o ânimo com que se entregaria à tarefa recebida.

Além de tudo, é preciso reconhecer que Letícia Dornelles se esmera em sair do mais que justificável anonimato para disputar – e esta é uma batalha especialmente dura – um lugar de destaque entre as aberrações mais abjetas que saltitam ao redor do aprendiz de Genocida.

Mais que desprezo, essa senhorinha me desperta asco. Muito asco.

Escrito por:

Eric Nepomuceno é jornalista e escritor

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