
Mídia israelense confirma: visita de comitiva brasileira foi para conhecer spray
O Brasil tem se prestado a qualquer papel que o coloque como “parceiro” de líderes mundiais que o (infelizmente) chanceler Ernesto Araújo considere conveniente bajular. Assim, às vésperas da eleição americana, no dia 18 de setembro de 2020, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, veio a Roraima com a desculpa de que a visita tinha caráter de cooperação ao combate à Covid-19. Alguém viu alguma gota de vacina ou algum outro tipo de auxílio chegar aqui, por orientação de Pompeo? Não. Claro que não.
“A parceria EUA-Brasil segue forte à medida que cooperamos para combater a covid-19, avançar com o crescimento econômico no hemisfério, e apoiar o povo venezuelano”, postou o secretário, ao justificar a visita. Deixa estar que nós sabemos que, de verdade, Pompeo tentava era intimidar a Venezuela de Nicolás Maduro e passar uma imagem positiva de Donald Trump, a caminho da derrota nas urnas, como já se antevia. Além do Brasil, Pompeo também esteve na Colômbia, na Guiana e no Suriname, como parte de um itinerário que, para analistas, serviu de aceno para o eleitorado de origem latina nos EUA.
A 16 dias das eleições em Israel (marcadas para 23 de março), Benjamin Netanyahu disputa mais uma vez o cargo de primeiro-ministro, numa tentativa desesperada de vencer a qualquer custo para manter a imunidade. O país passa pela quarta eleição em menos de dois anos numa demonstração clara de instabilidade política e Netanyahu sabe que não pode perder sob pena de responder aos vários processos em que é acusado de corrupção.
Neste ponto entra o Brasil e sua tietagem. Deslocar uma comitiva para Israel, agora, serve a Bolsonaro – totalmente desmoralizado frente à opinião pública pelo negacionismo à pandemia, acarretando mais de 265 mil mortes -, e a Bibi, que passa internamente a imagem de grande benemérito de países “desvalidos” em momento de tragédia aguda.
A presença de Eduardo Bolsonaro na comitiva, sendo ele um propagador das ideias de ampliação de armamento levanta suspeitas sobre o real motivo de sua ida a Israel. Difícil crer no seu repentino interesse pela pandemia.
Bolsonaro, pego na desculpa esfarrapada de que mandaria uma delegação conhecer um spray nasal destinado ao câncer de ovário, mas testado no tratamento da Covid-19, em Israel, quando na USP os estudos de um spray, criado para o tratamento da doença está em estágio bem mais avançado de pesquisa, negou ser este o motivo da viagem. Tentou dar um ar de “cooperação” à visita. Porém, nos jornais israelenses, a notícia sobre a comitiva – obrigada a se submeter às regras sanitárias de permanecer isolada no hotel e usar máscaras em locais públicos -, foi esta.
O site Ynet reportou que “uma delegação de alto escalão de funcionários do governo brasileiro chegou a Israel no domingo para uma série de reuniões com colegas israelenses sobre os esforços para combater a pandemia do coronavírus, incluindo um spray nasal desenvolvido por Israel contra COVID-19 que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu descreveu como um “milagre”. Araújo foi evasivo, dizendo que a delegação se reunirá com Netanyahu e funcionários do Ministério da Saúde “a fim de examinar maneiras de cooperar na questão do coronavírus”. Nunca é demais lembrar que Israel está entre os países com melhor desempenho na vacinação, contra a Covid-19.
A delegação, que além do chanceler tem o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Congresso, Eduardo Bolsonaro, entrou no país sem necessidade de quarentena, apesar da proibição de entrada de estrangeiros Israel e a ameaça de uma variante brasileira do COVID-19.
Tanto o The Times of Israel, quanto o site Ynet informaram que a delegação ficará confinada em seu hotel durante toda a visita, exceto nos encontros com Netanyahu e o ministro das Relações Exteriores Gabi Ashkenazi, que acontecerão no Gabinete do Primeiro-Ministro e no Ministério das Relações Exteriores, respectivamente. Representantes do Hospital Ichilov de Tel Aviv, que está por trás do spray nasal EXO-CD24, irão se reunir com membros da delegação em seu hotel depois que um pedido de visita ao hospital foi negado.
O hospital não disse se um placebo foi dado a um grupo de controle e ainda não publicou suas descobertas em uma revista científica revisada por pares. Para serem aceitos como eficazes pelos cientistas, os novos tratamentos geralmente devem passar por ensaios clínicos randomizados, controlados e cegos, que são então compartilhados em uma publicação de pesquisa.