Marçal e a sociedade no espelho
Nesta quarta-feira (04/09), em audiência na Comissão de Meio Ambiente do Senado, a ministra, Marina Silva, esclareceu a imensidão do abismo em que estamos. Afirmou que a crise ambiental é tamanha, que o Pantanal, a maior planície alagada do planeta, corre o risco de desaparecer até o final do século. O alerta levou a senadora Leila Barros (PDT-DF) a fazer um desabafo emocionado. Para a parlamentar, ex-jogadora da seleção brasileira de vôlei, não existe qualquer comprometimento de boa parte dos parlamentares com a gravidade da questão ambiental. Salvar o meio ambiente não está na pauta. Estão mais preocupados com a guerra ideológica, em atacar seus adversários políticos, em gravar lacrações dentro do plenário para postar nas suas redes sociais.
É comum ouvirmos que o parlamento é o espelho do povo de um país. Infelizmente, de uns anos para cá, está bem difícil para os mais lúcidos olhar para esse espelho disfórmico.
Hoje, os campeões de votos na política são os tais influencers e coaches, esse novo ramo de atividade, que comercializa um “modo de vida” ou uma “expertise” de sabe-se-lá-o-que. O fato é que esse nicho veio pra ficar, inclusive tem ocupado noticiário policial, com acusações de charlatanismo, organização criminosa, tráfico e outras coisas mais. Perto dessa turma que veio na esteira do bolsonarismo, as “rachadinhas” (desvio de dinheiro público subtraído dos salários de assessores), uma das predileções da família Bolsonaro nos parlamentos estadual, municipal e federal, parece fichinha.
A nova turma dos coaches/influencers angariou o apoio de parte do agronegócio e do sistema financeiro. Com a chegada de Pablo Marçal, parece muito claro que a extrema direita perdeu de vez qualquer prurido moral e ético. Marçal, condenado em 2005 por participar de uma organização criminosa que invadia contas bancárias pela internet e tinha como principais vítimas, idosos e aposentados, agora é o candidato incensado do mercado financeiro para ser o prefeito de São Paulo, a maior cidade da América do Sul.
O jovem coach, que tem milhões de seguidores nas plataformas, é a personificação do que existe de pior no capitalismo selvagem brasileiro. Marçal representa a exposição daquilo que os donos do capital praticam, mas que não desejam expor; aquilo que os constitui, mas que é guardado em escondido: as suas vísceras, o desprezo pelo ser humano, o abuso da boa-fé das pessoas pra enriquecer, o engano, a exploração dos mais pobres e vulneráveis.
Nos debates, o desrespeito aos jornalistas, aos adversários e aos espectadores, é consumido (sim, o termo é esse) pelos seguidores como uma virtude de Marçal. A ele compensa ser visto como alguém “politicamente incorreto”, de fora do sistema, que se contrapõe às normas e aos políticos tradicionais.
Hipnotizados pela performance do coach, seus seguidores e apoiadores não se dão conta de que são como cegos a caminho do precipício ao qual fatalmente poderão levar a todos nós.
Como disse Nelson Rodrigues, “os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos.”