Marçal e a corrosão da democracia
O candidato goiano à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, maneja como poucos aquilo que o cientista político Herbert A. Simon, Prêmio Nobel em 1978, chamava de economia da atenção. Para atrair a atenção, ampliar as visualizações, os engajamentos e clicks nas plataformas digitais, vale tudo: usar a violência verbal, mentir, enganar e prometer sucesso financeiro. Quanto maior o engajamento, maior o lucro de Pablo Marçal.
Fora das redes sociais, nos debates de televisão, ao desafiar Datena e receber uma cadeirada, ao ofender Ricardo Nunes e ser expulso com direito a cenas de pugilato, Marçal conseguiu o que queria: manter-se no centro das atenções. Suas bravatas nos debates e as lacrações em postagens na internet, ajudam o coach a se manter em evidência, garantindo um lugar no grupo de candidatos com chances de ir para o segundo turno na maior cidade do país.
Como sabemos, nas redes sociais não existem fronteiras geográficas ou sociais. Os seguidores pertencem a verdadeiras seitas ideológicas. Nesse universo distópico, onde as leis eleitorais não conseguem alcançar, fica fácil para os influenciadores terem sucesso em eleições para os mais diferentes cargos políticos da república. Por sua expertise no uso das redes sociais, Marçal não é hoje apenas uma ameaça a Bolsonaro, é uma ameaça concreta contra ao próprio Estado Democrático de Direito.
Marçal tem força própria junto ao eleitor de extrema direita, se comportando como um verdadeiro líder de sua seita, uma espécie de pastor de uma nova religião. Usa e abusa do nome de Deus para atrair seus seguidores e encorpar a horda de fanáticos que o incensam. Essa estratégia proporcionou autonomia ao coach, ao ponto de desprezar intermediações dos mercadores da fé, que se multiplicam nas mais diferentes igrejas do país.
Na terça-feira (24/9), a presidente do STF, condenou os repetidos episódios de violência na campanha eleitoral de São Paulo. Pediu rapidez nas punições e alertou que a Justiça eleitoral não deve, em hipótese nenhuma, tolerar casos de agressão. Disse a ministra Carmen Lúcia: “…estou encaminhando ofício à Polícia Federal, ao Ministério Público Federal e aos presidentes dos tribunais regionais eleitorais, para que deem celeridade, efetividade e prioridade às funções que exercem de investigação, acusação e julgamento de todos os que cometem atos contrários ao direito eleitoral e que sejam agressivos à cidadania, casos de violência da mais variada deformação, que se vem repetindo durante esse processo eleitoral.”
Não tenho muita fé de que a Justiça eleitoral será mais ágil nas punições aos candidatos transgressores em suas campanhas eleitorais nas redes sociais. Principalmente por falta de regulamentação e de uma legislação específica para a internet. Estamos perdendo muito tempo para conter o avanço da extrema-direita e seu projeto de destruição do país. Vide a impunidade daqueles que chegaram ao poder se utilizando de mentiras, discursos de ódio e que ao perder a eleição de 2022 planejaram e colocaram em andamento uma tentativa de golpe de estado que fracassou em 8 de janeiro de 2022. É necessária uma ação dura e imediata contra a instrumentalização dessas plataformas sociais como instrumento de destruição do ambiente social e democrático. Coisa que não aconteceu em 2018, e deu no que deu.