José Luiz Datena agride Pablo Marçal com cadeira durante debate da TV Cultura com candidatos a prefeito de São Paulo (Foto: Reprodução)

Marçal: a cadeirada e o abismo

16 de setembro de 2024, 13:20

A cadeirada de Datena sobre Marçal durante o debate da TV Cultura na noite do domingo (16/09) é o ápice da desmoralização do sistema democrático no Brasil. Um processo de desmonte que teve início já no golpe jurídico/parlamentar contra a presidenta Dilma e que se estendeu e aprofundou durante quatro anos de escárnio do desgoverno Bolsonaro.

Depois dos atos terroristas do 8 de janeiro, achávamos que estávamos no subsolo da incivilidade. Mas não. O buraco é mais profundo. 

O desmonte do Estado Democrático de Direito continua em marcha acelerada, comandado pela dupla Malafaia/Bolsonaro e agora encorpada pelos coach/influencers que ingressaram na política para cupinizá-la.  

O ex-presidente inelegível, impune nas dezenas de crimes que cometeu, articula diuturnamente os caminhos para instituir seu tão sonhado estado autocrático de extrema-direita no país.

Este ano, o processo de esculhambação do sistema eleitoral tem um novo capítulo e outro protagonista. 

Como candidato a prefeito, Pablo Marçal está conseguindo mais do que atacar as urnas eletrônicas. Ele zomba da Justiça Eleitoral dia sim, e dia também. 

A última é que o coach digital, que já deveria ter sido afastado do processo eleitoral, montou seu circo de horrores no centro de um debate de televisão que deveria discutir propostas para a maior cidade da América do Sul. A cena grotesca que domina todas as redes sociais desde a noite de ontem, só poderia ter sido protagonizada por personagens como Marçal e Datena. O fato, por si só, é desolador. Mas há algo ainda pior: virou piada, virou meme e fonte de diversão, numa incompreensão tristíssima que esse espetáculo atenta contra todos nós.

A cena de “telecatch”, todo o humor jocoso que vejo e a ausência de debate sério sobre as repercussões, me lembram de um dos contos dos Irmãos Grimm, O Flautista de Hamelin. Nele, os ratos, encantados com a melodia, seguiam festivos o Flautista, que os conduziria para fora da cidade (a polis, o ambiente de civilidade) e, ao final, os afogaria num rio caudaloso. 

Esse pequeno recorte da fábula, trazido para o fato de hoje, nos mostra o perigo do entorpecimento coletivo, da incompreensão da gravidade do momento em que vivemos. Que o despertar nos venha, enquanto é possível.

Escrito por:

Jornalista com passagem pelas principais redações do país: Folha de São Paulo, JT, TV Globo, TV Manchete, TV Cultura, TV Gazeta, TV Brasil, TVE/RIO, Rede Minas, Rádio Eldorado, Rádio Tupi, Rádio Nova FM, Rádio Musical e colaborador do El País Brasil e Brasil 247

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *