Roberto Campos Neto, Lula, Janja, Fernando Haddad e Simone Tebet (Foto: REUTERS/Adriano Machado | Luis Costa Pinto | REUTERS/Arnd Wiegmann | Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil (edited))

Lula e a batalha contra a espoliação econômica do Brasil

3 de julho de 2024, 16:15

Já não existe dúvida de que o Brasil foi capturado pelas aves de rapina durante os seis anos de Temer/Bolsonaro. Numa tríplice aliança, nadam de braçada nas riquezas do país o legislativo, que se apoderou de parte significativa dos recursos da União, com as tais emendas do orçamento; o capital financeiro, que surrupiou a chave do cofre do Banco Central; e as empresas de fachada, estrangeiras e nacionais, que seguem abocanhando empresas públicas em leilões com suspeitas consistentes de cartas marcadas.

Como sempre, nos últimos 130 anos, a mídia corporativa se deleita nessa “festa pobre que os homens armaram”. Ela vem devidamente mascarada, ocultando seus reais interesses, nos impedindo de “ver quem paga pra gente ficar assim”. O eterno Cazuza descreveu com precisão essa dinâmica do poder, na letra da música Brasil (cada dia mais contemporânea).

Está em curso no Brasil uma guerra entre os “usurpadores”, que querem manter o controle da economia, e o governo eleito, que quer democratizar a distribuição das riquezas do país. Uma batalha em que está em jogo o futuro do país. 

Vejam quem vem ganhando e quem vem perdendo na batalha da taxa básica de juros. Hoje, ela está em 10,50% e custa aos cofres do país algo em torno de R$ 660 bi ao ano. Até aqui, os vencedores têm sido os rentistas e, especialmente, os bancos e operadores financeiros, que alimentam seus apetites pantagruélicos com os juros abusivos cobrados nos empréstimos, nos financiamentos e nas aplicações financeiras. 

E quem está perdendo essa batalha até aqui? Os 200 milhões de brasileiros que pagam os impostos que garantem a munição dos adversários. A sangria dos juros feita no orçamento do governo é “compensada” pelos cortes de verbas destinadas às políticas públicas nas áreas da saúde, educação, moradia, transportes e investimentos em infraestrutura. Ou seja, em um cenário de restrição de gastos, quem paga é o mais vulnerável. Enquanto isso, poderosos como a grande mídia e empresas de capital elevado, se deleitam com benesses fiscais.

E no front de batalha do dólar, quem ganha e quem perde com a especulação da moeda estadunidense? 

Os ataques nessa trincheira se acirraram depois que Roberto Campos Neto, o “presidente independente” do Banco Central participou de jantares com o governador Tarcísio de Freitas, onde foi festejado e sondado para ser o possível ministro da Fazenda numa eventual vitória do bolsonarista perfumado. 

Apesar da mídia corporativa – revelando de que lado da batalha está – responsabilizar o Presidente Lula pela alta do dólar, alegando que o problema é causado pelas (justas) críticas a Campos Neto, a subida do dólar está intimamente ligada à decisão do FED (Federal Reserve, o banco central dos EUA) de manter a taxa de juros entre 5,25% a 5,50%. Isto, sim, resultou na valorização do dólar em todos os países capitalistas, inclusive no Japão, que sofreu forte desvalorização do iene japonês (13% em 24/06/2024).

Aqui também foi assim, mas com uma diferença: no Brasil, a crise é potencializada por um Presidente do Banco Central que milita contra a economia do próprio país. Assumindo o papel de “coveiro” da economia que tinha por obrigação resguardar, Campos Neto não desperdiça uma oportunidade sequer de atacar a política econômica do governo, incitando um clima de descrédito e minando o cenário econômico. Para esse prazer com a desgraça alheia – no caso, do povo brasileiro – o idioma alemão tem uma expressão precisa: “schadenfreude”. Em bom português, pimenta nos olhos dos outros, é refresco. Os outros, esclareço, somos eu e você, que não temos dinheiro investido em paraísos fiscais e offshores, e que só nos prejudicamos com a alta do dólar, diferentemente do “presidente independente” do BC. 

O fato é que na batalha da desvalorização do real, os especuladores estão vencendo de lavada. Só em 2024, o dólar acumula elevação superior a 16%, um aumento de 2,6% ao mês. A guerra não está perdida, mas as baixas são relevantes e perigosas. A cotação alta poderá fazer a inflação subir e, por consequência, um possível aumento da taxa de juros. No cotidiano de todos nós, os preços de alguns produtos, muitos deles essenciais, estão sob forte pressão. 

Gostaria que Lula não se rendesse aos senhores do capital. Se baixarem a cabeça, como tenta impor o mercado, Lula e Haddad serão guilhotinados, com direito a cobertura midiática, música e vinheta de câmeras filmadoras passando na tela dos plantões da principal emissora de televisão. A propósito, quanto à “vênus platinada”, essa sim, segue incensando os donos do capital, vitoriosa e enriquecida com a preservação da desoneração da folha de pagamento, que já dura mais de 12 anos e da qual jamais prestou contas à população.

Escrito por:

Jornalista com passagem pelas principais redações do país: Folha de São Paulo, JT, TV Globo, TV Manchete, TV Cultura, TV Gazeta, TV Brasil, TVE/RIO, Rede Minas, Rádio Eldorado, Rádio Tupi, Rádio Nova FM, Rádio Musical e colaborador do El País Brasil e Brasil 247

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