Itamaraty deu caráter oficial à visita de Francisco Maximiano à Índia

30 de junho de 2021, 21:21

Documentos enviados pelo Itamaraty, à CPI da Covid-19 e obtidos pelo 247, mostram que o governo brasileiro foi quem intermediou a visita do empresário Francisco Maximiano, diretor da empresa Precisa Medicamentos, representante no Brasil do laboratório indiano Bharat Biotech, à Nova Déli, ocorrida nos dias 7 e 8 de janeiro deste ano.

A visita teve caráter “oficial” e mereceu um comunicado, emitido no dia 12 de janeiro, depois que o grupo visitou as instalações da Bharat Biotech, onde era aguardado pelo diretor presidente, o Dr. Krishna Ella, em Genome Valley. O empresário Francisco Maximiano foi até lá para tratar principalmente de vendas da vacina para o setor privado.

De acordo com o comunicado da empresa indiana, na ocasião “foi discutido o potencial e as possibilidades de exportação de Covaxin, a primeira vacina produzida na Índia para imunizar a população contra a Covid-19”. Havia, então, o compromisso de que uma parte do lote seria repassado ao Ministério da Saúde, por meio de uma contratação direta, mas o interesse era mesmo na quantidade que poderia ser comercializada por eles. Na época, a expectativa era a de que o empresariado viesse a poder adquirir vacinas para imunizar os seus funcionários – esse era o discurso. O comunicado da Bharat, tinha o seguinte teor:

“Em princípio, fica entendido entre ambas as partes que o fornecimento de Covaxin deve ser priorizado para o mercado público, por meio de uma contratação direta pelo Governo do Brasil. O fornecimento ao mercado privado seria baseado no recebimento de autorização de mercado da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a autoridade reguladora brasileira.”“Durante a discussão, o excelentíssimo embaixador do Brasil na Índia, André Corrêa do Lago, se juntou em uma plataforma virtual. Ele expressou seu grande interesse em nome do Govt. Do Brasil, para a aquisição de Covaxin”, diz um trecho do comunicado.

Satisfeito com o interesse manifestado pelo governo brasileiro, o Presidente e Diretor Gerente da Bharat Biotech, o Dr. Krishna Ella disse: “A pandemia Covid-19 afetou a humanidade em geral. Como uma empresa determinada a proteger a saúde pública global, sempre foi importante para nós desenvolvermos vacinas para uma causa global. Covaxin é uma inovação e um exemplo perfeito de novo produto desenvolvido na Índia. Nosso objetivo para todas as vacinas desenvolvidas na Bharat Biotech é fornecer acesso global às populações que mais precisam. A Covaxin gerou excelentes resultados de segurança com sistemas imunes robustos e respostas a múltiplas proteínas virais que persistem. Estamos felizes em observar que as vacinas inovadas na Índia são capazes de atender às necessidades de saúde pública do Brasil.”

Apostando na aprovação do projeto que debatia a compra de vacinas pelo empresariado, Maximiano, recebido na Índia com tapete vermelho, estava certo também da aprovação pela Anvisa, de uma portaria apresentada pelo deputado Ricardo Barros (PP-PR) e líder do governo na Câmara, que tinha como objetivo a aprovação da vacina Covaxin, pela Anvisa, em caráter emergencial.

O negócio com a Índia foi fechado em 25 de fevereiro – tempo recorde – e previa a compra de 20 milhões de doses por R$ 1,6 bilhão, o que significa o imunizante mais caro adquirido pelo país até agora. A constatação de que havia algo de suspeito nesta contratação, foi levantada por Luiz Ricardo Miranda, chefe da divisão de importação do Ministério da Saúde, que revelou em depoimento à CPI, ter sido pressionado por seus superiores, para dar agilidade ao contrato, à revelia da área técnica.

A lei (nº 14.124/2021 e a nº 14.125/2021), que previa a comercialização de vacinas pelo setor privado chegou a ser sancionada em abril, por Bolsonaro. O projeto, altamente antiético, propunha, na verdade, a existência de uma “casta” de privilegiados, num momento em que o Brasil se debatia com uma avalanche de mortes e hospitais lotados com doentes entubados. O projeto foi apelidado de “fura-fila” e não foi aprovado.

Agora a Precisa Medicamentos está na mira da CPI porque intermediou o contrato entre o governo brasileiro e a Bharat para a compra de 20 milhões de doses da Covaxin a preço exorbitante. O documento foi assinado quando ainda não havia aval da Anvisa para a vacina fazer testes fase 3 no Brasil — agora, o Ministério da Saúde anunciou a suspensão do contrato.

Alvo da CPI da Covid, o empresário Francisco Maximiano, que intermediou a compra da Covaxin junto ao Ministério da Saúde, ascendeu nos negócios, de acordo com reportagem de O Globo, graças a uma rede de contatos, que inclui o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), tido como sendo o intermediário de uma reunião do empresário com a direção do BNDES. Maximiano responde a investigações envolvendo negócios com os Correios, a Petrobras, o governo do Distrito Federal e o próprio Ministério da Saúde. A sua defesa, obviamente, nega.

Escrito por:

Jornalista. Passou pelos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora-pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" e "Imaculada", membro do Jornalistas pela Democracia

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