Instituições precisam dar um basta nas bravatas de Bolsonaro
Desde a live de quinta-feira, dia 29 de julho – repleta de fake news –, Bolsonaro só faz subir o tom dos seus discursos bravateiros em torno do voto impresso. Agora, ameaça lotar a Av. Paulista e adotar o que o “povo” (leia-se os seus fanáticos) gritarem para ele fazer. Mais populista e inconstitucional, impossível. E pretencioso, também, levando-se em conta o tamanho dos atos de apoio deste final de semana que passou.
Esperava-se que o discurso do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, o confrontasse – ainda que todos saibamos que “in Fux we trust” –, mas o que fez foi mais uma vez tangenciar, sem botar os pingos nos “is” ou nem sequer citar o nome do endereçado. Bolsonaro talvez nem tenha entendido a fala como sendo para ele. Enquanto isto, o presidente do Tribunal Superior Eleitora (STF), Roberto Barroso, se pronuncia pelo Twitter, onde todos se encontram, menos a Lei e as medidas cabíveis para enquadrar alguém que ameaça a democracia e a próxima eleição.
As oscilações e atitudes covardes, adiam para cada vez mais perto da campanha eleitoral, um embate que até então Bolsonaro manipula. Primeiro, conseguiu incluir na pauta do país uma discussão que, a rigor, não estava na linha do horizonte. Desde 1996 ficou pacificado que as eleições no Brasil transcorrem sem maiores questionamentos – nem sequer por parte da família presidencial, toda ela levada aos seus cargos pelo voto eletrônico, como já foi dito à exaustão. Agora, ganha tempo (enquanto arregimenta adeptos entre os seus) para a defesa à proposta de “eleições mais transparentes” com o voto impresso. Falácia. Até mesmo o garoto frustrado de 2014, Aécio Neves, já veio à público dar o seu testemunho de que perdeu, sim. Após auditoria do TSE. Aquela, que no chiqueirinho Bolsonaro propala não ser possível.
A “lenga-lenga” do voto impresso, que vai sendo empurrada com a barriga no âmbito dos poderes a quem cabe moverem-se em direção a um basta, tem um potencial perigoso. Permite que o assunto chegue cada vez mais perto do início do ano eleitoral, elevando a campanha ao grau de combustão. E esta parece ser a intenção calculada por Bolsonaro. Esticar a corda para que a disputa e a decisão sobre a forma de como as eleições se darão, se emparelhem, e assim fazer ferver o cenário político que, diga-se de passagem, já promete altíssimo grau.
Matéria de Marcelo Camargo, publicada hoje pela Agência Brasil, anuncia que a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que institui a obrigatoriedade do voto impresso no ano que vem, no Brasil, “deverá ser uma das prioridades da Câmara no segundo semestre, segundo o presidente da Casa, o deputado federal Arthur Lira (PP-AL), e tem votação marcada já para esta quinta-feira (5) na Comissão Especial que analisa o texto.”
Caso seja fato a inclusão em pauta, da votação, podemos respirar e torcer para que a PEC seja rejeitada e esta discussão enterrada de vez antes de vazar para o ano seguinte. Empacando, assim como os mais de 100 pedidos de impeachment que dormitam na gaveta de Arthur Lira, este pode ser o grande mote que Bolsonaro precisa para colocar em marcha o seu plano de convulsionar o país a partir da Av. Paulista, o seu reduto (cada vez mais reduzido e fanático).
A proposta do voto impresso é uma bandeira de Jair Bolsonaro e vem sendo defendida por seus apoiadores com a desculpa de dar mais segurança ao pleito. O presidente afirma que o sistema de urnas eletrônicas é defasado, passível de fraude e não permite conferência. Balela. Mais uma para engrossar o seu vasto repertório de bravatas, mas que podem, assim como aconteceu no Capitólio, nos Estados Unidos, “causar”. Só para lembrar, naquela movimentação relâmpago, houve cinco mortos. Lá, a Força Nacional agiu ao lado da democracia, sufocando a “rebelião”. Aqui, este número pode subir, levando-se em conta que não sabemos de que lado ficarão as Forças Armadas. Vide ecos do general Braga Neto, às ameaças de Bolsonaro. Quem vai pagar para ver?