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Haddad pode ser o que quiser no governo, mas cargo de chanceler é o menos provável

14 de novembro de 2022, 13:15

As maiores atenções do mundo nesses tempos que atravessamos estão voltadas, sem dúvida, para a questão climática. Isto é ponto pacificado entre os maiores – e inteligentes, a ressalva em nosso caso se faz necessária -, líderes mundiais. O embarque do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, certamente dará mais brilho à COP27, no Egito, levando-se em conta que está em nosso país a maior reserva ambiental, o bioma amazônico. Ademais, ao contrário do seu antecessor, ele tem posições favoráveis ao combate ao desmatamento.

Para acompanhá-lo Lula leva a internacionalmente reconhecida entre os ambientalistas, Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente (e, aposta-se, a futura), o senador Randolfe Rodrigues (Rede Sustentabilidade), o partido de Marina, e Fernando Haddad, ex-ministro da Educação, que concorreu ao governo de São Paulo e que já disse a Lula não querer um retorno à pasta. 

Por esse seu desprendimento, renunciando ao cargo de ministro da Educação – uma das pastas mais importantes nesse governo -, os analistas entenderam que Haddad almeja mais. Há quem o aponte como o novo titular da Fazenda (para desespero do tal “mercado”), e quem veja na sua viagem ao Egito uma indicação de que poderá ser o novo chanceler. Mas há também quem aposte que esses errarão feio.

Por sua qualificação, Fernando Haddad teria credenciais para os dois postos. Porém, é preciso analisar alguns pontos das opções colocadas na mesa. Haddad tem o perfil conciliador que talvez agrade mais e o faça transitar no mundo dos negócios e dos números, se esgueirando das camas-de-gato que o meio impõe. 

Lula é grato a ele por ter se lançado de corpo e alma nas eleições de 2018, chegando a um patamar de votos que poucos imaginavam, para um candidato que teve praticamente 20 dias para percorrer o país se anunciando como o substituto do Lula. E, é bom lembrar, com severas limitações na campanha, como a proibição decidida pelo ministro do STF, Luiz Roberto Barroso, de se usar qualquer referência a Lula nas peças publicitárias de sua candidatura. Na eleição de 2022, atribui-se a ele a costura que permitiu a inclusão do ex-governador tucano, Geraldo Alkimin, na chapa vitoriosa.

De acordo com pessoas próximas ao Lula, Haddad chanceler não foi opção mencionada em nenhum momento pelo presidente eleito. Uma das razões é porque será dada prioridade a um nome da carreira diplomática. Porém, um dos interlocutores, fez a ressalva: Haddad vai ser o que ele quiser.

E acaso há de querer ser chanceler? É ele o nome que vem sendo forjado por Lula para seu substituto, pois já declarou inúmeras vezes sua intenção de ir para casa ao fim desse mandato, não concorrendo á reeleição. Neste caso, Haddad estaria começando a se mostrar e a conviver no mundo internacional, a fim de angariar trânsito com as diversas lideranças. Ao mesmo tempo, chanceler é um cargo de muitas viagens, o que o deixaria distante da política rotineira do país, nem sempre propiciando estar na mídia com a frequência de um ministro da Fazenda. 

Não há como saber o que vai pela cabeça de Lula, mas é fácil saber o que não vai. Com os seus, de confiança, o presidente eleito costuma trocar ideia, e essa jamais apareceu nos diálogos. Fazenda? Planejamento?  Secretaria Geral? São cargos prováveis, a despeito da grita na esfera do empresariado. No entanto, quando o carro começar a andar, quem vai pular na frente para tentar detê-lo? Aos poucos esses nomes vão sendo assimilados. E, como disse a fonte, Fernando Haddad pode se dar ao luxo de escolher. 

A viagem ao Egito pode ser apenas a oportunidade de conversar mais profundamente com Lula sobre os seus desejos e anseios. O resto é especulação. Em tempo: não estou prevendo o futuro. Apenas repassando impressões de atores próximos.

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Escrito por:

Jornalista. Passou pelos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora-pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" e "Imaculada", membro do Jornalistas pela Democracia

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