
Governistas esperam catimba na apresentação do relatório final da CPMI
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), encerra amanhã (17/10) os seus trabalhos, com a entrega do relatório final apresentado pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA). Chega ao fim de forma melancólica, pois caminhou sob pressão das Forças Armadas. Mesmo tendo alardeado, no início, não ter problema em ver os seus escaneados pela Justiça Comum, o Comando depois regateou os nomes graúdos, deixando a CPMI questionar apenas até a faixa intermediária das patentes, numa costura laboriosa ao pé do ouvido do ministro da Defesa, José Mucio, e cafezinhos com o presidente da Comissão, Arthur Maia (União-Bahia).
O relatório estará disponível em torno das 7h da manhã desta terça-feira (17/10) e será apresentado em sessão no plenário às 9h. Para alguém que já passou os olhos nas cerca de 900 páginas produzidas pela relatora Eliziane Gama, trata-se de um documento “extremamente técnico”, e que não dará muita margem à contestação da turma do barulho, sempre disposta a melar o jogo.
A expectativa é a de que ele possa ser colocado em votação aos integrantes da Comissão, ainda amanhã (no máximo quarta), mas levando-se em conta a “catimba” orquestrada até aqui pela oposição – idealizadora da CPMI -, é possível que tentarão todo tipo de obstrução.
Nunca é demais lembrar que a turma bolsonarista bateu o pé para a abertura da CPMI, jogando todas as fichas no discurso absurdo do “autogolpe”. Pelo meio do caminho, e diante das denúncias pesadas e comprovadas trazidas pelos membros governistas, fizeram de tudo para tumultuar os trabalhos e para impedir que nomes significativos do meio militar, como o almirante Almir Garnier, que se pronunciou – segundo delação do tenente-coronel Mauro Cida – pelo golpe, em reunião com Bolsonaro, fossem ouvidos.
Ficaram de fora – por decisão esdrúxula do ministro Kassio Nunes -, as gravações do celular do ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal, Silviney Vasques -, a fala de Braga Netto, ausência acobertada pelo presidente da Comissão, Arthur Maia e a dos dois generais no comando em tempos de acampamentos: general Júlio Arruda e o comandante Marcos Freire Gomes.
Passou batido também a ação escandalosa do comandante da guarda palaciana, o tenente-coronel Jorge Fernandes da Hora, o papel do governador Ibaneis Rocha (MDB-DF), e sobrou apenas para o general Gustavo Henrique Dutra, que tatibitate, diante dos deputados e senadores, mal sabia dizer o seu nome, de tão travado no cenário da CPMI.
O que se espera é a leitura dos relatórios paralelos de Alexandre Ramagem, ex-chefe da Abin e deputado pelo PL do Rio, e Izalci Lucas (Senador, PSDB-DF), tentando, nos estertores da chance de ribalta, emplacar a ideia estapafúrdia de que a culpa do golpe foi do ministro – então há apenas uma semana no cargo -, Flávio Dino.
A atuação do general G.Dias não ficará muito nítida. Será difícil isentá-lo totalmente da sua catatonia e do comportamento ambíguo diante de situação que exigia pronta ação, mas ainda assim será forçar a barra tentar incriminá-lo no golpe. A oposição tentará emplacar a versão.
Outro que deverá aprontar – agora na condição de membro, infelizmente -, será o deputado Abílio Brunini (PL-MT), que durante todo o percurso da CPMI comportou-se como um colegial da quinta série, fazendo escada para as performances sem graça do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG – tinha de ser com k!!!).
Mesmo com todas essas marchas e contramarchas, os integrantes da CPMI apostam que ela trará elementos contundentes, que permitirão avançar no comprometimento de Bolsonaro e sua turma, nos processos em andamento na Polícia Federal e outras investigações que poderão ser abertas pelo Ministério Público Federal (MPF). Que venha a público o catatau.