Folha de S.Paulo: de volta à ditabranda
Em fevereiro de 2009, em uma recaída reacionária ancorada na saudade de tempos em que emprestava veículos do jornal para a Operação Bandeirantes transportar presos políticos para a tortura, a Folha de S.Paulo vomitou um editorial onde se referia à ditadura militar instaurada pelo golpe de 1964 como “ditabranda”.
A ofensa transtornou o País e tornou-se símbolo do descolamento do jornalão paulista da dor e da memória da maior tragédia nacional, depois da escravidão, em prol de uma agenda que se arrasta até hoje: o apoio ao projeto liberaloide de uma elite jeca de caboclos que se pretendem ingleses.
A Folha nunca se desculpou de verdade pela comparação infame que fez da ditadura brasileira, graduada pelo jornal como “branda” em oposição a outras, mais ferozes, como a do Chile de Augusto Pinochet.
Um mês depois do famoso editorial, o então todo poderoso – e já falecido – Octavio Frias Filho, o Otavinho, reconheceu o erro de forma envergonhada, mas insistiu na comparação, além de insinuar que a esquerda não tinha repertório moral para criticar o orgulhoso diário da Barão de Limeira, envolto na boçalidade típica da sempre cafona elite paulistana.
Agora, no 31 de março de 2023, dia em que a escória nacional comemora os 59 anos do golpe de 1964, a Folha de S.Paulo, em novo surto, regurgita um editorial semelhante para saudar a volta de Jair Bolsonaro e pregar uma risível adaptação do fascismo à brasileira, de modo a inaugurar um novo movimento – ou um novo golpe – para tirar o PT do poder.
Diz a Folha: “O bolsonarismo até poderia, se abandonasse a violência e o autoritarismo, liderar uma oposição saudável ao PT. Esse não é infelizmente, o desfecho mais provável”.
Eu fico pensando que tipo de jornalista é idiota o bastante – ou venal o suficiente – para imaginar o bolsonarismo sem exatamente aquilo que é a sua essência, a violência e o autoritarismo. Seria como imaginar o nazismo sem eugenia e antissemitismo, Hitler na praça dando milho aos pombos, brincando com crianças judias e de bigodinho raspado.
Como a patética burguesia a qual representa, a Folha não conhece os limites do ridículo.