Lula e Jair Bolsonaro (Foto: REUTERS/Mohamed Abd El Ghany | REUTERS/Adriano Machado)

Falta ao grande líder Lula ser também nosso grande herói

30 de novembro de 2022, 18:37

Se não se acovardar, atendendo ao capricho de generais de terem ingerência na escolha de seu ministério, Lula, além de “o maior presidente do Brasil”, poderá ser o “grande redentor da Pátria”. Será eterno. Uma lenda latina talvez à altura do libertador Simón Bolívar.

Quando um Presidente do Brasil tiver a firmeza de exercer sua devida autoridade e romper os grilhões da “conciliação crônica”, que esmaga a nossa identidade democrática, deixando-nos à mercê de correntes militares com projetos próprios de poder, o Brasil será redimido desse círculo perverso.  

Só assim poderemos ser o grande país almejado, aquele exaltado em hinos, que não refletem nossa realidade. Neste seu terceiro mandato como presidente do Brasil, abre-se a Lula a perspectiva de coroar sua trajetória política com o ímpeto heroico de um libertador.  

A história republicana no Brasil é pontuada por golpes de estado, protagonizados por militares ou não, sempre com o mesmo argumento: corrupção e comunismo.  

Ora, bolas! Nossa corrupção vem de longe, desde “o capuz vermelho, a carapuça de linho e o chapéu sombreiro preto”, presenteados aos índios pelos primeiros portugueses desembarcados na Terra de Vera Cruz, segundo a carta de Pero Vaz de Caminha.  

Em 1567, para ajudar os portugueses a afugentarem os franceses da Baía de Guanabara, o índio Araribóia, do povo Tupi, combateu os Tamoios. Índios matando índios, em troca de Araribóia ganhar de presente a ilha de Niterói. Corrupção.

No Primeiro Reinado, “negócios escabrosos” eram intermediados pela amante do imperador Dom Pedro I, a Marquesa de Santos, em troca de joias e muitos contos de réis. Corrupção.

Nos Séculos XVIII e XIX, no período colonial, imagens de santos “do pau oco” eram sistematicamente enviadas a Portugal, recheadas com ouro roubado nas capitanias das Minas Gerais e de São Paulo. Corrupção.

Chega a ser patética a insistência dos golpistas em amedrontar os brasileiros com o fantasma do comunismo, ideologia política soterrada sob o falecido Muro de Berlim, seu maior símbolo. Apenas China, Cuba e Coréia do Norte obedecem hoje à doutrina comunista, com significativas mudanças e distensões, exceto na repressão e na censura.  

A China inovou com seu “socialismo de mercado”, em que é mantido o controle estatal sobre a economia, mas não há veto à propriedade privada nem restrição à acumulação pessoal de riquezas.  

No período Obama, Cuba estabeleceu ligações financeiras com os EUA, que a retiraram de sua lista de nações patrocinadoras de terrorismo e as embaixadas foram reabertas. Parte desse acordo foi posteriormente melada por Trump, restringindo as transferências de recursos e as viagens de norte-americanos àquela ilha.  

A Coréia do Norte é o único dos três países que pratica o comunismo “puro sangue”, mas bem distante de qualquer possibilidade de vir “assombrar” as criancinhas brasileiras.  

Nossas Forças Armadas são tratadas como crianças mimadas, que não podem ser contrariadas, senão batem o pé, dão murro na mesa, quebram tudo e escrevem mensagens ameaçadoras no Twitter. Elas servem à Pátria, e não o contrário.  

Depois dessa luta, em que brasileiros desdobraram, fibra por fibra, suas últimas energias, para libertar e afastar o país do monstro do fascismo, representado pelo tenebroso Jair Bolsonaro, há que existir uma recompensa, uma transformação que a justifique.  

Uma peleja contínua, aguerrida, exaustiva, movida a esperança e amor incontido à pátria, como a que nos levou a essa vitória de muitos vencedores, de incontáveis heróis anônimos e sabidos, não merece ser desconsiderada e resultar na mesmice histórica de vermos nossa Constituição com joelhos dobrados, cabeça curva, voz balbuciante e interpretação grosseira de seu texto.

Soberania já! Democracia sempre! Anistia nunca mais!   

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Escrito por:

Formação acadêmica: Conservatório Nacional de Teatro 1967-1969, Rio de Janeiro
Jornalista, atriz e diretora do Instituto Zuzu Angel/Casa Zuzu Angel - Museu da Moda. Manteve colunas diárias e semanais, de conteúdos variados (sociedade, comportamento, cultura, política), nos jornais Zero Hora (Porto Alegre), O Globo, Última Hora e Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), onde também editou o Caderno H, semanal.
Programas de entrevistas nas TVs Educativa e Globo.
Programas nas rádios Carioca e Paradiso.
Colaborações e/ou colunas nas revistas Amiga, Cartaz, Vogue, Manchete, Status, entre outras publicações).
Atriz de Teatro, televisão e cinema, de 1965 a 1976
Curadoria de Exposições de Moda: Museu Nacional de Belas Artes, Museu Histórico Nacional, Itau Cultural, Paco Imperial, Casa Julieta de Serpa, Palacio do Itamaraty (Brasilia), Solar do sungai (Salvador).
Curadoria do I Salao do Leitor, Niterói

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