Espetáculo virtual conta saga da guerrilheira Dora

5 de março de 2021, 16:31

Em tempos de pandemia a cultura migrou para as telas domésticas e chega em casa, no conforto do sofá. Para os interessados na história recente e em um personagem marcante da luta pela liberdade, a opção é a estreia amanhã do espetáculo “Dora”. É possível retirar ingressos gratuitos antes das 20h, que é quando será levado, no endereço: www.sympla.com.br, pela plataforma pela plataforma Vimeo. A direção é da atriz Sara Antunes, que encarna Dora.

Em cartaz aos sábados e domingos às 20h, até 4 de abril, a peça tem como enfoque passagens da vida de Maria Auxiliadora Lara Barcelos, a Dora, citada no discurso de posse da ex-presidente Dilma Rousseff, juntamente com Carlos Alberto de Freitas, o Beto. Emocionada, Dilma os homenageou, dizendo que gostaria de tê-los ao seu lado naquele momento.

Para resgatar essa história pouco conhecida, a atriz e criadora Sara Antunes mergulhou na trajetória dessa aguerrida mineira, estudante de medicina e guerrilheira.

De posse de um material histórico inédito, confiado pelos familiares à atriz e cineasta, Sara traça um percurso de registro de memória e afirmação das trajetórias femininas na política.  “Neste projeto, não pretendo mitificar heróis, também não se trata de uma homenagem, mas acho importante debruçar sobre a história do país do ponto de vista de quem participou dela. Principalmente, as mulheres”, afirma.

Aos 23 anos, Maria Auxiliadora entrou para a luta armada contra a ditadura, como integrante da organização Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares). Foi presa no dia 21 de novembro de 1969, com Antônio Roberto Espinoza e Chael Charles Schreier. Dora, ou Dodora – como era chamada -, e Chael foram vítimas de torturas severas. Ela passou por choques elétricos e palmatórias nos seios e Chael morreu, por conta dos pontapés e socos que levou, 24 horas após os maus tratos.

Por tudo isto, foi incluída na lista dos presos trocados – num total de 70 militantes de esquerda – aceitos pelo Chile, do presidente Salvador Allende. Com o golpe que levou Allende à morte e muitos exilados à prisão, conseguiu sair e viveu na Bélgica, França e, em 1974, fixou-se na Alemanha, onde viveu até 1976, quando atormentada pelos traumas do passado, se jogou nos trilhos do metrô, aos 31 anos.

“Neste projeto, não pretendo mitificar heróis, também não se trata de uma homenagem, mas acho importante debruçar sobre a história do país do ponto de vista de quem participou dela. Principalmente, as mulheres”, explica a diretora.

Ela detalha também que “em seus dias na prisão Dora foi exposta a diferentes tipos de violações, sobretudo de cunho desmoralizante frente à sua condição de mulher. Entre ser colocada em exposição como objeto para visitação de militares curiosos e degradação moral diante dos companheiros. Dora denunciou as violências sofridas na ocasião de seu julgamento, na Justiça Militar”.

Escrito por:

Jornalista. Passou pelos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora-pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" e "Imaculada", membro do Jornalistas pela Democracia

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