Elogio ao dia da verdade
Quando um mentiroso compulsivo diz uma verdade, surpreende meio mundo. Não quer dizer que depois permanecerá sem mentir. Ao contrário: mentirá muito mais, como para corrigir aquele momento de distração cruel.
Mas nem por isso esse momento fugaz deve ser esquecido. Ao contrário: deve ser registrado, uma espécie de elogio. Jair Messias mente com a mesma facilidade com que respira. Mas de vez em quando escorrega.
Depois de eleito, deu um exemplo claro dessa exceção: disse que a primeira coisa a fazer seria “destruir esse país aí”, para só então construir outro. E não tem feito outra coisa que destruir, destroçar, tudo o que foi construído ao longo de décadas.
Pois agora, há poucos dias, sapecou uma verdade: disse que no Brasil nada está tão ruim que não possa piorar. Mais que uma verdade dita de maneira generalizada – sabemos todos que, na vida, tudo pode piorar, e que por isso mesmo devemos concentrar atenções para evitar que isso ocorra – entendi a frase como uma advertência. Melhor dito: um aviso.
Como todo mentiroso irremediável comete algum lapso ao dizer uma verdade, Jair Messias cometeu, neste caso específico, dois.
Primeiro lapso: dizer uma verdade.
Segundo: esqueceu de dizer que continuará a não pedir esforços para que a verdade da frase ocorra, ou seja, que tudo que, mais que mal, anda péssimo neste pobre e destroçado país, piore ainda mais.
Os números do cotidiano de quase 212 milhões de brasileiros – as exceções são os beneficiados de sempre, a elite manipuladora de dinheiros e recursos – são assombrosos.
Li ontem mesmo que 161 milhões dos nossos habitantes vivem uma situação de “precariedade alimentar” ou coisa parecida. Traduzindo: têm acesso a menos comida que o recomendável. E soube também que desse mundo de gente, 19 milhões de pessoas não padecem exatamente “precariedade”: diretamente passam fome. Não têm o que comer.
Vamos ver: 161 milhões de pessoas são quase duas Alemanhas. Quase quatro Espanhas. Quase dezesseis Portugais. Já 19 milhões seriam como seis Uruguais sem ter o que comer. Quase duas Cubas. Um Chile inteiro. Meio Canadá.
E Jair Messias adverte: vai piorar. Parte substancial do empresariado e a quase totalidade dessa entidade etérea e invisível chamada de mercado financeiro continuam apoiando Jair Messias e um especulador chamado Paulo Guedes.
Ouvem a advertência expelida pela boca genocida e se calam. Este é um silêncio estrondoso e cúmplice. Uma cumplicidade que também pode piorar.
Resta saber como vamos aguentar até o primeiro dia de 2023, quando o Genocida deixará, e para sempre, o palácio presidencial desta ruína chamada Brasil.