Donald Trump e Jair Bolsonaro (Foto: Alan Santos/PR via BBC)

Eduardo criou o roteiro para que Bolsonaro fosse humilhado por Trump

17 de janeiro de 2025, 10:05

Eduardo Bolsonaro nem precisa dizer ao pai que o convite para a posse de Trump não tem o mesmo padrão dos que foram recebidos, alguns por telefonema, por Javier Milei, Jeff Bezos, Mark Zuckerberg, Elon Musk, Viktor Orbán e Giorgia Meloni.

Bolsonaro sabe que foi tratado como mais um pelo cerimonial da posse. Eduardo recebeu um convite genérico para repassar ao pai. Um cartão virtual, via e-mail, que pode sair de um site em que todo mundo se convida e é convidado. Ninguém imagina que os bilionários trumpistas e as lideranças do fascismo internacional tenham recebido algo parecido.

E aí está o problema que Eduardo acabou criando para o pai, ao sair anunciando que ele havia sido convidado por Trump. Bolsonaro deu entrevistas até para o The New York Times dizendo que, por ter sido chamado para a festa pelo amigo americano, deixaria de tomar Viagra, de tão feliz que estava.

Pois aconteceu o que Alexandre de Moraes apostou que aconteceria ao desafiar Eduardo a arranjar um convite personalizado para o pai. Eduardo não conseguiu.

Para os bolsonaristas, ao fazer a aposta, o ministro seria derrotado por algo previsível. Dudu conseguiria mobilizar seus parceiros nos Estados Unidos, começando pelos filhos de Trump, para obter o convite com o carimbo do homem.

Imaginem a gincana a que foram submetidos os subalternos da família Bolsonaro atrás do convite. Quantos telefonemas não foram atendidos nos Estados Unidos. Imaginem quantas vezes alguém disse em Washington: é aquele cara do Brasil de novo.

Paulo Gonet e Moraes fizeram dobradinha para rejeitar o pedido de liberação do passaporte. Bolsonaro não seria uma autoridade em missão institucional para ir à posse. Seu interesse não poderia se sobrepor ao interesse público representado pelas investigações do golpe. 

Além disso, sempre foi um incentivador de fugas, como disse o ministro, e o convite era algo do tipo ‘aparece lá em casa’. Incapaz de reverter o desafio proposto por Moraes sobre o convite, Eduardo não conseguiu tirar o pai da armadilha.

Trump, seus filhos, seus assessores, o pessoal da festa, os porteiros da Trump Tower – todos foram incomodados durante dias para que alguém expedisse com urgência um convite pessoal e intransferível. Os emissários de Dudu fracassaram. 

Parece um detalhe, mas não é. Trump tratou Bolsonaro com descaso, quando poderia ter parado alguns minutos e feito um movimento, um só, que resultasse na prova de que de fato desejava a presença de Bolsonaro em Washington.

Não fez esse movimento porque o brasileiro não é figura relevante no contexto das alianças e das guerras que vai deflagar logo depois da posse. 

Ninguém diz que o convite é falso. É apenas impessoal, impreciso e fajuto, sem os locais e horários dos festejos, considerando-se que haverá uma dúzia de eventos. Esse é o resumo da interpretação de Moraes.

Os filhos de Trump se negaram a mandar uma mensagem personalizada em nome do pai para o filho de Bolsonaro. Moraes apostou que, em mais uma tentativa de afrontá-lo, os Bolsonaros seriam humilhados. O ministro venceu de novo. 

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

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