Fátima de Tubarão (Foto: Reprodução (Rede Social))

Condenação de Fátima de Tubarão é também um constrangimento para a Justiça

5 de agosto de 2024, 18:48

O grito de guerra de Fátima de Tubarão foi ouvido ao vivo, no ataque de 8 de janeiro a Brasília. Foi compartilhado nas redes do fascismo e depois apareceu até no Fantástico.

Pelo ativismo radical, pelos 67 anos, pelo apelido e por ser de Santa Catarina, a terra do mais estrondoso bolsonarismo, Maria de Fátima Mendonça Jacinto Souza ficou sendo a mais famosa entre todos os invasores de Brasília.

Fátima gritava: “Vamos para a guerra, é guerra agora. Vamos pegar o Xandão”. Nem ela, nem os mais de 5 mil invasores, nem os acampados diante do QG do Exército, nenhum deles seria capaz de pegar Alexandre de Moraes.

Mas os líderes, os que não apareceram em Brasília, os que levaram Fátima até lá e depois se esconderam, esses poderiam pegar quem quisessem se o golpe tivesse dado certo.

Como a condenada mais famosa é Fátima, o sistema de Justiça acaba sendo personagem de um constrangimento. A idosa é do reduto da extrema direita brasileira, o Estado com o mais descarado engajamento do poder econômico ao projeto de manutenção de Bolsonaro no governo a qualquer custo.

E ninguém da estrutura do golpe em Santa Catarina, montada muito antes do 8 de janeiro, foi indiciado até agora. Gente que, pela arrogância e por ter dinheiro e lugar de fala, fez até discursos explosivos em restaurantes pregando o bloqueio de estradas, depois da eleição. Porque a ameaça era o comunismo.

Santa Catarina montou em Itajaí o maior acampamento golpista protegido pelos militares. Resistiu a desmontar barreiras de caminhões nas estradas. Comandou pregações nas redes e ações que impedissem a posse de Lula ou sua permanência no governo.

E Fátima de Tubarão é até agora a cara do extremismo catarinense já punido, condenada por abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado, dano qualificado, deterioração do patrimônio tombado e associação criminosa armada.

A idosa sabia o que fazia quando agia em Tubarão como traficante e estelionatária e que por isso poderia pegar cadeia. Mas o que poderia saber sobre abolição violenta do Estado de direito, se nem os juristas se entendem se foi isso mesmo o que ela tentou fazer no 8 de janeiro?

Os invasores foram a arruela de um parafuso frouxo na engrenagem do golpe. Fátima foi usada para ajudar na provocação do caos, para que depois os golpistas decidissem o que fazer. 

O caos foi uma baderna, os chefes a abandonaram e estão por aí. O poder econômico de Santa Catarina que financiou estruturas e planos da extrema direita, desde a formação do gabinete do ódio até a cena do patriota grudado ao para-brisa do caminhão, está impune.

Alexandre de Moraes sabe que há entre eles contrabandistas, sonegadores, agiotas, lavadores de dinheiro. As baleias-francas de Imbituba sabem. As gaivotas de Itajaí são sabedoras há muito tempo.

São os grandes financiadores, as vozes mais potentes e influentes, os mais respeitados em suas cidades. O bolsonarismo catarinense não existiria como o mais fiel e ativo do país sem o suporte dos seus poderosos endinheirados.

E todos estão até agora longe do alcance do sistema de Justiça que condena Fátima de Tubarão a 17 anos de cadeia, mas não consegue estender o braço para pegar os núcleos civil, militar, empresarial e miliciano da extrema direita em suas bases.

Coloquem uma tornozeleira em Fátima de Tubarão, para que volte para casa, e ofereçam a vaga dela na prisão aos grandes golpistas de Santa Catarina. 

É improvável que Fátima venha a ser uma golpista reincidente. Mas os golpistas com dinheiro sabem bem o que fizeram. Sabem que estão escapando e se reestruturando e que poderão tentar fazer tudo de novo.

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

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