Lula em entrevista ao UOL (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Conceição, Lula se lembra muito bem

26 de junho de 2024, 20:34

O presidente Lula está maduro. Não de idade, que disso ele assume e fala com tranquilidade. Mas não há nesse país, hoje, alguém que conheça mais da máquina governamental do que Luiz Inácio Lula da Silva. Conhece e sabe o que fazer com ela. Lula entende de gente, como poucos. Faz uma leitura perfeita de sua equipe e sabe o que cada um lhe traz, ou leva. Ou leva-e-traz.

Quando ele diz que vai “fazer”, passa tanta verdade que não há quem possa duvidar. Por isso, não há quem lhe dite regras sobre o funcionamento do mercado, porque ele teve aulas práticas e doutoramento com D. Lindu. E os princípios de D. Lindu que o norteiam servem aqui, em Harvard ou no trato com o BC. Porque esses princípios misturam o economês com a sensibilidade e as reflexões adquiridas em 580 dias que lhe deram para pensar na vida. Sabem a criança que os pais botam para “pensar”, trancadas no quarto sem TV? Pois é. Foi o que lhe impuseram. E Lula pensou.

Pensou, por exemplo, que a geração de economistas que virou “fonte” dos jornalistas jovens, nos últimos anos, não teve aulas com Maria da Conceição Tavares. E, portanto, acham que PIB é sobremesa. Lula sabe, tal como Conceição, que PIB não enche barriga, mas permite empregos e bons salários.

Se a inflação subiu, ninguém sabe, ninguém viu. Porque a inflação brasileira, ao contrário da argentina, está dentro da meta. E quando os jornalistas perguntam onde fazer os cortes “necessários”, ele responde, de pronto: para cima do trabalhador, não. Irresponsabilidade? Nem um pouco. Princípios da Conceição, de quem ele se lembra muito bem.

Lula sabe, por exemplo, que há muita gente no morro a sonhar com coisas que o morro não tem. E ele sabe que é possível, desde que a gangue da desoneração, dos 17 setores, bote a mão na consciência e dê contrapartidas, garantindo empregos, que a economia deslancha, como já aconteceu.

Lula não tem pressa de indicar ninguém para o BC. Do que Lula tem urgência é de colocar os pobres no consumo. Sabe que, num país continental como é o Brasil, é possível conciliar bons salários, consumo e controle da inflação. Já fez isso, no passado. Para a tarefa, tem a auxiliá-lo no comando da economia o ministro Haddad, que persegue, por obrigação e compromisso, o déficit zero. Tal como Lula, Haddad tem no horizonte as questões sociais. E de conciliação, ambos entendem. Portanto, há tempo de sobra para pensar em nomes para o BC. Gabriel Galípolo segue na diretoria, fazendo o seu trabalho.

Escrito por:

Jornalista. Passou pelos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora-pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" e "Imaculada", membro do Jornalistas pela Democracia

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