Centrão quer Ministério da Saúde para quê?
O Centrão de Arthur Lira está de olho no Ministério da Saúde desde que Lula, na formação de sua equipe, acenou com postos na Esplanada a partidos de centro e direita para compor uma base parlamentar estável. Não deu. Menos de seis meses depois, as dificuldades do Planalto nas votações da Câmara devem forçar ajustes na composição ministerial e — surpresa! — o Centrão está pedindo de novo a pasta. Tudo indica que não vai levar. Mas seria oportuno ir além do noticiário rotineiro de cada dia, no qual nós, jornalistas, acabamos por normalizar esse tipo de reivindicação: Ministério da Saúde para quê?
Por que o Centrão quer derrubar a ministra Nísia Trindade, uma técnica de reputação irretocável, e o que vai fazer com o Ministério? Lamentavelmente, a intenção não é exatamente desenvolver projetos eficientes para levar saúde a todos os brasileiros. O conjunto da obra de gestões políticas do setor mostra sucessivos escândalos envolvendo o mega-orçamento da Saúde. Das máfias das Sanguessugas e das Próteses aos achados da CPI da Covid, o pessoal costuma seguir o mesmo script: licitações fraudadas para compra de remédios e equipamentos, superfaturamento na aquisição de vacinas e a convivência com uma legião de lobistas de porta de cadeia frequentando a pasta para negociações pouco claras. O fio de boa parte das investigações — quando as há — quase sempre leva a políticos do Centrão, inclusive do PP, partido de Lira.
Lula tem ainda boas razões políticas para não ceder e nomear um indicado desse grupo para a Saúde, mesmo um nome aparentemente “técnico” que sirva de barriga de aluguel: estaria passando a ideia de estar ajoelhando para beijar a cruz de Lira. Antes de tudo, terá cometido um sério erro de gestão, cuja conta será paga pelos brasileiros mais pobres, que dependem do SUS e são os principais prejudicados pelos desvios da corrupção no setor.
A essa altura, possivelmente o próprio Arthur Lira saiba que não vai levar a Saúde. Como bom vendedor, está barganhando, cobrando um preço bem mais alto do que a mercadoria vale para, ao final da negociação, levar alguma vantagem. É do jogo. E o governo tem um mundo de possibilidades a oferecer ao Centrão, sem mexer com a saúde das pessoas. Tirar esse Ministério da loja de brinquedos não quer dizer que Lula não vai fazer ajustes na Esplanada para garantir apoio no Congresso.
A equação que levou o União ao Ministério, por exemplo, está errada desde o primeiro dia, conforme sempre disseram líderes experientes da Câmara. Na ocasião, o presidente eleito tinha pressa em fechar sua equipe e acabou ouvindo conselhos do senador Davi Alcolumbre (AP) para preencher as duas vagas de deputados do partido — Daniela do Waguinho (RJ), no Turismo, e Juscelino Filho (MA), nas Comunicações. Alcolumbre havia fechado o apoio do União no Senado com Waldez Gois (PDT-AP) para a Integração. Acabou sendo interlocutor nas outras nomeações porque o clima azedara entre Lula e a bancada da Câmara quando o PT da Bahia vetou Elmar Nascimento — hoje líder e melhor amigo de Lira — para o Ministério.
Ainda que sem certeza de que bastará isso para conquistar os votos do partido, a essa altura a troca de Daniela pelo escolhido da bancada, Celso Sabino (PA), no Turismo não vai surpreender ninguém — nem mesmo o Waguinho, que conversa com Lula nesta segunda. O prefeito de Belfort Roxo (RJ) esteve em Brasília em estado de fúria antes dos feriados, mas já está sendo acalmado pelos articuladores do Planalto. Até porque o governo pode fazer muita coisa pelo município para compensar a perda do Turismo.
E aí é melhor encerrar a conversa por aqui, antes que alguém se lembre de perguntar: Ministério do Turismo pra que mesmo?