Jair Bolsonaro em São Paulo – 25/03/2024 (Foto: REUTERS/Amanda Perobelli)

Bolsonaro vira um Sherezade atarantado à espera do dia em que será preso

25 de janeiro de 2025, 16:47

Bolsonaro virou um contador de causos. Um dia conta que, se quisesse, poderia ter fugido do Brasil. No outro, que vai aceitar a cadeia e que até acorda pensando na manhã em que a Polícia Federal irá acordá-lo.

Conta que pode lançar Michelle à presidência e depois virar seu chefe da Casa Civil. Mas no outro dia diz que não tem nada negociado com Michelle e que os filhos podem sucedê-lo.

E vai contando histórias sem fim, sem pé nem cabeça, como se estivesse criando a sua caricatura de um Sherezade macho e trapalhão, meio aloprado, que se esforça para escapar do cerco da Justiça e da hora em que a PF irá bater à sua porta. Bolsonaro está desnorteado.

Já contou que, se voltasse a ser presidente, nunca mais teria tantos generais à sua volta. Que Mario Fernandes, o general acusado do plano do assassinato de Lula, Alckmin e Moraes, planejou algo improvável. Não porque seria um desatino, mas porque Moraes era cheio de seguranças.

Na semana que foi de Trump, Bolsonaro produziu uma manchete por dia em entrevistas a rádios, TVs, blogs, podcasts e tudo que pudesse assegurar audiência. Sempre recebendo tratamento de amigo dos entrevistadores.

Aparentemente, haveria um método na produção de causos confusos, que incluem até a notícia de que lançaria uma criptomoeda, como Trump fez pouco antes de assumir. 

A notícia do bolsocoin foi desmentida por Carluxo, sob a alegação de que uma conta do pai nas redes sociais havia sido invadida. Mas logo depois bolsonaristas que entendem de dinheiro anunciaram e criaram mesmo a patriotacoin.

O que tudo isso revela é que a extrema direita se diverte com as suas mil e uma noites de impunidade, aqui e nos bailes da vida de Washington.

Até o dia em que for preso, Bolsonaro pretende investir num truque que tem suas qualidades: inventar histórias, propor roteiros sem fim, enrolar e dar algum sentido até mesmo literário ao seu drama.

Bolsonaro está tentando ganhar tempo, com as muitas versões possíveis para o que pode acontecer com ele e o seu entorno, porque assim nos mantém hipnotizados pela sua oralidade criativa.

Todas as declarações dele essa semana saíram em alto de página e foram transformadas em pautas trabalhadas com afinco e seriedade pelos jornalões. 

O jornalismo hegemônico leva Bolsonaro a sério, porque não surgiu ainda outra figura capaz de substituí-lo no papel de chefe do antilulismo.

Globo, Folha e Estadão dependem de Bolsonaro, até os 52 minutos da prorrogação, para que continuem batendo em Lula e no governo e ameaçando a todos com o véio do saco.

Enquanto usam Bolsonaro, tentam em desespero encontrar alguém que possa ocupar seu lugar, mesmo que na extrema direita, porque uma solução ao centro já é uma miragem irreversível.

Folha, Globo e Estadão pedem para a Sherezade que se instalou em Bolsonaro: pelo amor de Deus, conta mais.

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

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