Bolsonaro e seus ministros erguem o túmulo da Educação
O governo Bolsonaro tem imposto ao Brasil péssimos gestores públicos, nas mais diversas áreas. Mas, no que se refere à Educação, as escolhas têm sido a dedo e os resultados, desastrosos. Numa área básica da vida nacional, os quadros que têm aparecido são bizarros exemplos do bolsonarismo mais atrasado e rasteiro. O resultado tem sido o desmonte do setor, tocado por quem ultrapassa as fronteiras da mediocridade e entulhando a galeria de ex-secretários de nomes que, em um governo sério, sequer seriam lembrados para o cargo.
Ao todo, entre os que chefiaram a pasta e os que foram sem nunca terem sido, cinco bolsonaristas de estirpe podem juntar aos seus currículos a passagem, mesmo que de raspão, pelo Ministério de Educação do governo que menos olhou para o setor na História. Metade deles foi parida da verve anticomunista, antiglobalista e terraplanista do “filósofo” e astrólogo amador Olavo de Carvalho, mentor da ala ideológica do governo e padrinhos escancarado de pelo dois ex-ministros, o colombiano Ricardo Velez Rodriguez e Abraham Weintraub, de sofrida memória.
Ricardo Velez, o primeiro ministro da Educação de Bolsonaro, cometeu um número tão grande de parlapatices, para seus três parcos meses de gestão, que acabou caindo. Destaque para o pedido que fez a professores para filmar os alunos cantando o Hino Nacional e recitando o slogan de Bolsonaro, “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. O ridículo da ideia não a permitiu prosperar e ele pediu o boné logo depois.
Abraham Weintraub era mais perigoso e foi um dos mais ideológicos dos ministros de Bolsonaro. Caiu por excesso de confiança, pois às vezes pensava ser o próprio presidente da República. Colecionou palavras e atos polêmicos, alguns de cunho racista, todos nitidamente antidemocráticos. Na famosa reunião ministerial de 21 de abril de 2020 (a da “boiada” do ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles), foi autor da recomendação para prender os ministros do Supremo Tribunal Federal. “Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF”, declarou, no encontro. Caiu meio que pra cima. Ainda ocupa cargo no Banco Mundial e manteve por um bom tempo o irmão Arthur como importante assessor do Planalto.
No time dos ex-quase-futuros ministros da Educação, o professor Carlos Decotelli foi o número um em bizarrice. Anunciado 13 dias após a saída de Weintraub, não chegou a tomar posse. Foi-lhe fatal a revelação de que mentiu ao enxertar no currículo cursos e títulos que não possuía e que Bolsonaro, pomposamente, citou na TV ao anunciar seu novo ministro. “Decotelli é bacharel em Ciências Econômicas pela UERJ, mestre pela Fundação FGV, doutor pela Universidade de Rosário, Argentina, e pós-doutor pela Universidade de Wuppertal, na Alemanha”, declamou o “mito”. Não era bem assim. As duas universidades estrangeiras desmentiram a conversa mole e o professor foi “desescolhido”.
E há um caso de recusa, o do empresário Carlos Feder, que chegou a ser anunciado por Bolsonaro, mas declinou do convite. Uma sequência de escolhas equivocadas e gestões desastradas que tornaram a Educação na era Bolsonaro um peso morto em termos de qualidade e importância histórica. Coisas pelas quais o setor, que já teve à Paulo Freire, Darcy Ribeiro e Fernando Haddad, sempre primou. O governo Bolsonaro constrói a façanha de ser o túmulo da Educação.
Mas, pelo visto, o atual chefe da pasta, o pastor protestante Milton Ribeiro, vai além. Com seu estilo tosco e inacreditavelmente retrógrado, tem mantido a tradição da linhagem bolsonarista, e se superado. Rancoroso e radicalmente evangélico (“terrivelmente evangélico” é outro requisito criado por Bolsonaro, mas para ocupantes do STF por ele indicado), tem marcado a sua gestão por atitudes de um viés de extrema-direita que deixa o citado Olavo no chinelo.
Em seu ideário e discurso, Ribeiro coleciona bizarrices. Já defendeu a universidade “para poucos”. Universidade que ele, antes mesmo de ser ministro, já entendia como reduto de “sexo sem limites”. Em vídeos mais antigos , já apareceu defendendo um feminicida que, segundo ele, “confundiu paixão com amor”, ou pregando castigo físico para educar crianças. Um “democrata”. Repleto de aspas.
A última de Milton Ribeiro foi se envolver em bate-boca com a filha do ex-jogador e hoje senador Romário. Ivy, portadora de síndrome de down, enquadrou o ministro após este ter cometido o despautério de questionar o “inclusivismo” ao afirmar, na TV Brasil, que misturar crianças deficientes com alunos sem a mesma condição “atrapalha” o aprendizado desses últimos. Romário, que tem a defesa da criança com deficiência como bandeira desde o nascimento na filha caçula, reagiu primeiro, chamando o ministro de “completo idiota” e “imbecil”. Ribeiro reagiu à moda bolsonarista, dizendo que a sua frase foi “tirada de contexto”. Mas coube a Ivy rebater, com doçura, as patadas do ministro, a quem acusou de “mal educado”.
“Sabe, eu tenho síndrome de Down, sou uma pessoa com deficiência, e sou estudante. Eu estudo para ter um futuro e ajudar o meu país. Eu não atrapalho ninguém”, fulminou a pequena Ivy, que se mostrou uma craque na sensibilidade, na sagacidade e no bom senso. Como o pai sempre foi na bola. Como o ministro nunca foi, em nada disso.