(Foto: Reprodução)

Bolsonaro devia estar sendo julgado. Mas, solto, apronta, cada vez mais

8 de dezembro de 2021, 11:00

Jair Bolsonaro é um tipo incorrigível, incapaz de conciliar com qualquer regra decente de conduta e que não cabe nas normas de uma sociedade civilizada. Está provado, pelo seu conjunto da obra. Tudo que ele faz é coerente com a abjeção do que ele sempre diz e pensa. Ou se age de maneira firme, dentro de medidas e padrões que ele entende, e que se doa, ou de nada adiantam investigações e até mesmo indiciamentos, tratando-o como um réu qualquer, o que ele não é. 

A CPI da Pandemia da Covid-19 deixou à vista o grau de periculosidade daquele que, pelo menos no protocolo, foi eleito para governar o Brasil. Ao final dos trabalhos da comissão do Senado, as acusações contra Bolsonaro deveriam servir, no mínimo, para um julgamento célere contra ele. 

O relatório da CPI aponta Bolsonaro como indiciado, ao lado de 77 pessoas e duas empresas. Ele,  como protagonista da maior tragédia sanitária da história do país e, até aquele momento, pelas mais de 605 mil vidas ceifadas. 

O rol de crimes é alentado: prevaricação, charlatanismo, desrespeito a regras sanitárias preventivas, negacionismo e boicote a vacina, corrupção e desvio de dinheiro público, incitação ao crime, falsidade ideológica e falsificação de documentos particulares, vários crimes de responsabilidade que sustentariam o impeachment do presidente (violação de direitos sociais, incompatibilidade com dignidade, honra e decoro do cargo). Além (não menos importante) de crimes contra a humanidade, como genocídio, perseguição e agressão aos direitos humanos. 

Onde deveria estar o presidente da República Federativa do Brasil diante de um rosário de acusações de igual teor e de potencial importância? Na pior das hipóteses, enfrentando um julgamento sumário e sério. Num país com mais respeito à Justiça, poderia, a esta altura, ser julgado, condenado e preso, cumprindo pena exemplar. Não está. E ele, nem aí… 

As últimas aparições de Bolsonaro na mídia, esta semana, mostram que ele não se abalou com nada do que a CPI lhe imputou. Depois de um breve período poupando minimamente a lógica e a ciência, voltou a ladrar para o mundo que, no Brasil, continuamos governados pela ignorância, pelo desrespeito e pelo nonsense. Todas as suas baterias de novo se voltaram contra a vacina e contra as medidas preventivas de combate à proliferação do vírus e de suas variantes. 

A insanidade da semana (uma das) foi atacar e chamar de “coleira” o passaporte vacinal, única medida capaz de garantir um mínimo de tranquilidade aos brasileiros diante do perigo da entrada de infectados do exterior aqui no país. Mais uma vez, o “mito” vai de encontro às orientações da ciência e assaca contra o órgão regulador da saúde do seu próprio governo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, que recomendou o passaporte de vacina como método fundamental para contar a entrada da variante ômicron no Brasil. 

Ao seu estilo e acostumado à mentira, Bolsonaro já havia distorcido a orientação da Anvisa ao dizer que a agência defenderia o fechamento do espaço aéreo, o que nunca aconteceu. Tudo com o beneplácito insano do ministro da Saúde, outro indiciado da CPI da Pandemia por ser relapso e incompetente. Marcelo Queiroga, que já havia expelido mais uma pérola do puxa-saquismo – a distorção bolsonaríssima “melhor a morte que a falta da liberdade” -, sacramentou a loucura do chefe e anunciou, em seguida, que a providência do governo, no lugar do passaporte de vacina aos viajantes, será uma pífia quarentena de cinco dias, sem fiscalização. 

Em termos de prevaricação, mais Bolsonaro impossível.

Escrito por:

Jornalista e compositor, com passagem por veículos como o Jornal do Commercio (PE) e as sucursais de O Globo, Jornal do Brasil e Abril/Veja. Teve colunas no JC, onde foi editor de Política e Informática, além de Gerente Executivo do portal do Sistema JC. Foi comentarista político da TV Globo NE e correspondente da Rádio suíça Internacional no Recife. Pelo JC, ganhou 3 Prêmios Esso. Como publicitário e assessor, atuou em diversas campanhas políticas, desde 1982. Foi secretário municipal de Comunicação. Como escritor tem dois livros publicados: "Bodas de Frevo", com a trajetória do grupo musical Quinteto Violado; e "Onde Está Meu Filho?", em coautoria, com a saga da família de Fernando Santa Cruz, preso e desaparecido político desde 1973. Como compositor tem dois CDs autorais e possui gravações em outros 27 CDs, além de um acervo de mais de 360 canções com mais de 40 músicos parceiros.

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