A incontrolável violência da polícia de Tarcísio: da Chacina no Guarujá ao ataque ao parlamento
Bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta, golpes de cassetetes de borracha. Idosos, mulheres grávidas, parlamentares, servidores públicos e sindicalistas; cada um dos presentes no parlamento estadual de São Paulo na noite de ontem (06/11), carregou no seu próprio corpo as marcas da truculência da PM de Tarcísio de Freitas. O festival de pancadaria e violência ocorreu durante a votação da privatização da Sabesp, uma das maiores companhias de saneamento básico do mundo.
Além dos corpos dos populares presentes nas galerias da ALESP, a truculência policial vitimou gravemente o estado democrático de direito. Na trilha de seu “Mito” criador, o governador de São Paulo dá mostras do seu desapreço à liberdade de expressão, à livre manifestação popular e ao respeito à oposição parlamentar. Ou seja, o conceito de liberdade, que a eles parece tão caro, tratado quase como uma deidade, pelo visto, não é para todos… a liberdade é seletiva, só vale para quem pensa e age como eles.
Em um ano no poder, o governador carioca de São Paulo já deu mostras suficientes de que vai passar por cima de quem quer que se oponha ao seu projeto de entrega do patrimônio público paulista. E pelo andar da carruagem, assistiremos outras vezes, atônitos, Tarcísio destruindo martelos em leilões de empresas estatais, arrematadas pela especulação financeira. Uma repetição do que ocorreu na entrega do Rodoanel Norte para a Via Appia Fip Infraestrutura, da Corretora Sita, um fundo privado sem qualquer expertise em rodovias.
Mas para além do entreguismo das estatais, essa mesma cena ocorrida na ALESP, escancara algo que tem assombrado os paulistas: o empoderamento e a crescente violência de ações da PM.
Só no primeiro semestre desde ano, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública, 155 pessoas foram mortas por PMs em serviço. Ou seja, uma alta de 26% em relação aos óbitos registrados no mesmo período do ano passado.
Um dos casos mais emblemáticos, apontando para essa crescente, foi a Chacina do Guarujá, que deixou ao menos 28 mortos em uma comunidade pobre da baixada santista. A ação é a mais violenta da polícia militar do estado, desde o Massacre do Carandiru, em 1992.
Na época, o governador afirmou que as mortes na operação Escudo, no Guarujá, eram “efeito colateral”. E mais, sem qualquer constrangimento, disse que estava “extremamente satisfeito” com a atuação de sua polícia.
Ao defender e elogiar a violência das PMs, Tarcísio repete o discurso linha dura de alguns governadores da ditadura militar. A ideia de que “bandido bom é bandido morto”, tem vitimado milhares de inocentes, num verdadeiro morticínio de jovens negros, moradores de bairros pobres dos grandes centros urbanos. Ou seja, os destinatários preferenciais da violência policial têm cor e CEP bem específicos.
Toda essa violência policial é bastante indicativa da pauta da extrema direita nas eleições vindouras, de 2024: a segurança pública.
Por isso não é estranho, apesar de gravíssimo, saber que na cidade do Rio de Janeiro, grupos autointitulados “justiceiros”, surgiram no bairro de Copacabana. Eles utilizam as redes sociais e aplicativos de mensagens para se organizar. Lançando mão de tacos de baseball, soco-inglês e até mesmo armas de fogo, esses grupos se propõem perseguir e “caçar” suspeitos de estarem cometendo roubos no bairro. Eles falam em amarrar os suspeitos em postes e humilhá-los publicamente, como faziam os capitães do mato com os escravos no Brasil colônia. As semelhanças históricas são muitas, uma delas é que o capitão do mato não atuava sozinho, tinha ao seu lado um grupo de repressão. Além disso, agiam em sintonia com as forças militares da colônia. Outra semelhança é o alvo: jovens negros.
Nesse mesmo contexto, lembro aqui que o deputado federal Sargento Portugal (Podemos/ RJ) apresentou Proposta de Emenda à Constituição, que transforma as Guardas Municipais em Polícia Municipal. Esses homens da Guarda Municipal passariam a ter armamento e as mesmas atribuições das polícias estaduais, com poder de revista, apreensão e prisão de suspeitos.
É certo que o roteiro da extrema-direita já está pronto para as campanhas municipais e que terá PM paulista como modelo. Apresentando, no caso do Rio de Janeiro, o ex-delegado de polícia federal, Alexandre Ramagem (PL-RJ) como o salvador da segurança pública e responsabilizando o atual prefeito, Eduardo Paes, pelo aumento da violência na cidade. Nessas narrativas eleitoreiras, pouco importa que um Prefeito não tenha controle algum sobre as PMs e a Polícia Civil.
A propósito dessa subversão dos fatos, tão característica da extrema-direita, nunca é demais lembrar que nos últimos oito anos, o estado do Rio de Janeiro tem sido governado por bolsonaristas. Ainda assim, a criminalidade deu saltos adiante, inclusive por conta da atuação, cada vez mais incisiva e frequente, das milícias fluminenses. Ou seja, a “fórmula mágica” da segurança pública que eles tanto alardeiam e que pretendem oferecer, como ouro de tolo aos eleitores em 2024, além de não servir para eleições municipais, não teve qualquer efeito em gestões estaduais, além do agravamento da violência. Não serviu para lá, não servirá para cá e nem para lugar nenhum.