A Grande Suspeita

11 de março de 2021, 14:57

– Sergio, onde você estava?

– Como assim? Na vara.

– Estou com uma certa suspeição sobre você. O que você andou fazendo esse tempo todo?

– Fazendo justiça com as próprias mãos.

– Mãos limpas?

– Mas meu amor, sou um marido ilibado,  fiel e um juiz…

– Honesto? Sergio, por favor. Sou sua mulher, mas não sou boba.

– Você está comigo há tantos anos. Não deu pra ver quem eu sou como juiz?

– E você deixava? Estava sempre lá com aqueles procuradorezinhos dando ordens, ouvindo grampos, vazando áudios.

– Amor, isso é segredo de justiça.

– Que segredo, Sérgio. Todo mundo já tá sabendo. Não viu o Fachin. Ele derrubou todo o nosso projeto.

– O que é que eu faço?

– Procura outro emprego.

– Tô procurando nos Estados Unidos…

– Procura aqui mesmo, Sergio. O Paraná tá cheio de casos de falcatrua, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica. Não é essa a sua especialidade?

– Eu não nasci pra isso, meu amor.  Queria ser espião da CIA.

– Você já foi e não deu certo. Descobriram tudo.

– Foi só um estágio. Eu ia ser promovido.

– Ai veio aquele power point.

– Tava tão bonitinho. Por que não acreditaram?

– Porque era mentira Sergio. Qualquer um podia ver.

– Mas o caso era moleza. Era só arranjar a escritura do tríplex no nome do Lula

– Pois é, cadê a escritura?

– Tá lá, mas faltava a assinatura?

– A assinatura era a prova. Se não tem assinatura…

– Puxa vida, fiz tudo direitinho. Coloquei o sapo barbudo na prisão, ajudei a eleger o homem, virei ministro e tudo…por que não deu certo? Me diz?

– Mitos não tem ministros, meu amor.

– Eu sempre achei que eu era o mito. Lembra do Morobloco? Eu tava surfando na onda.

– Curitibano não sabe surfar

– Mas eu bem que tirei onda.

– Agora tem que arranjar grana pra pagar o leite das crianças, meu amor.

– Tem essas consultorias…

– Estão de olho. Você vai cobrar de quem você ajudou a quebrar?

– Será que dá pra perceber?

– Querido, acho que só nos resta fazer barreado pra vender.

– Eu vou escapar dessa, você vai ver. A elite não vai me abandonar.

– Sei…

– Verdade…duvida?

– Sei lá…é que…

– É que o quê?

– Eu não teria tanta certeza assim…

– Você vai me abandonar?

– Sérgio, corta essa. Hoje é seu dia de lavar o banheiro.

– Pode ser lava jato?

– Vê se cresce, meu amor. A Lava jato já era e por tua culpa.

– Peço escusas.

Escrito por:

Cartunista, diretor de arte e ilustrador além de jornalista, comentarista e autor de teatro, cinema e televisão.

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