(Foto: ABr)

A cerca de Mourão

27 de janeiro de 2021, 11:01

Leio, aqui e ali, e não é a primeira vez, que as relações entre Jair Messias e seu vice, o general da reserva Hamilton Mourão, andam muito estremecidas, quase inexistentes.

Aliás, tem sido assim desde que Jair Messias se aboletou na poltrona presidencial. E ele tem razões de sobra para olhar seu vice de esguelha.

Até parece haver coincidências entre os dois, mas são apenas aparentes. 

Senão, vejamos: ambos são bastante falantes. Um, em quartéis do que for, da Polícia Militar a qualquer uma das Forças Armadas, ou para o bando de fanáticos arrebanhados lá no portão do Palácio da Alvorada. 

O outro fala com empresários daqui e de fora, diplomatas, o tão venerado mercado financeiro e jornalistas.

Um expele bestialógico insensato, claríssima mostra de seu desequilíbrio. O outro se mostra coerente, suas frases são claras – até mesmo quando diz incongruências – e em geral proferidas com serenidade. 

Jair Messias nega o óbvio, muda de ideia ao sabor dos ventos da sua insanidade, diz que não disse o que disse, mente como quem respira e a verdade é que cada vez mais me pergunto como pode ser levado a sério. Deve ser, claro, pelo perigo que representa e pelo seu poder de destruição. Mas é tamanha a sua incoerência que nunca se sabe ao certo de onde virá o seu próximo passo rumo ao genocídio: a única certeza é que será dado.

Hamilton Mourão, por sua vez, representa outro tipo de perigo: não é um conservador, é um reacionário, digno representante do que de pior existe entre os remanescentes da ditadura que durou de 1964 a 1985. Não é, nem de longe, patético feito seu colega de pijama Augusto Heleno, e por isso mesmo é mais perigoso.

Nesta quarta-feira, 27 de janeiro, enquanto Jair Messias mostrava seu sorriso nervoso aos arrebanhados do dia, Mourão participava da reunião do Fórum de Davos, na Suíça – aquela reunião que junta os donos dos dinheiros do mundo.

O que ele falou sobre o meio ambiente e a Amazônia não tem tanta importância: foi só mais do mesmo. Continua tratando de manter prudente distância da realidade, querendo convencer que o que está mais do que comprovado não aconteceu nem acontece. 

A novidade que merece atenção, isso sim, foi Mourão anunciar, mesmo admitindo que não tem participado das negociações, que assim que se definam os nomes dos próximos presidentes da Câmara e do Senado, deverá acontecer uma reforma ministerial. 

O único nome que citou como candidato a ser catapultado foi o de Ernesto Araújo, o ministro de Aberrações Exteriores. 

Não mencionou o da Saúde, Eduardo Pazuello, general da ativa que, depois de Jair Messias, é o maior responsável pelo genocídio vivido pelo país nestes dias de breu.

Há pouco, Mourão se queixou da falta de diálogo com Jair Messias. Tudo indica que agora decidiu mandar recados à distância.

Não quer mais ser um Mourão largado num canto qualquer: resolveu fazer parte da cerca. 

Cercando o quê, ainda não ficou claro.

Sim, sim: leio e releio que as relações entre os dois são quase inexistentes. E me pergunto é com quem Jair Messias se relaciona, além das emas do Palácio da Alvorada e algumas das antas que perambulam ao seu lado… 

Escrito por:

Eric Nepomuceno é jornalista e escritor

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