Nivaldo Restiva, Flávio Dino e Edmar Camata. Fotomontagem

Dino escapa de duas crises e recebe uma segunda chance antes de ter tido a primeira

23 de dezembro de 2022, 19:10

O futuro ministro da Justiça, Flávio Dino, teve um segundo livramento, em pouco menos de uma semana, graças a um tipo de golpe do destino que só costuma presentear gente de muita sorte.

Primeiro, foi ter conseguido se livrar de Edmar Camata, a quem distraidamente nomeou para o cargo de diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, sem saber que se tratava de um lavajatista de quatro costados, idólatra da dupla Moro-Dallagnol, entusiasta público da prisão do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Camata foi indicação do PSB, partido de Dino, do Espírito Santo, com o carimbo do governador Renato Casagrande.

Depois, foi a vez de outra nomeação desastrada: o coronel Nivaldo César Restivo, da Polícia Militar de São Paulo, para o cargo de secretário nacional de políticas penais do Ministério da Justiça. Restivo, ex-comandante do Batalhão de Choque da PM paulista, participou do massacre do Carandiru, em 1992, quando 111 mortos foram chacinados pela polícia, desarmados, dentro das celas do antigo presídio da capital paulistana. Também foi indicação do PSB, desta vez, de São Paulo, sob os auspícios do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin.

No primeiro caso, Dino deu uma resposta rápida à crise e, em menos de 24 horas, retirou a indicação do lavajatista e encerrou o assunto. Todos do futuro governo soltaram a respiração, aliviados. Um dia depois, veio a cacetada do coronel Restivo, orgulhoso oficial da chacina do Carandiru, por ele reputada como ação honrosa e necessária. O futuro ministro ficou numa situação delicada, como o técnico de um time que está ganhando e leva dois gols, um atrás do outro, no segundo tempo da prorrogação.

Cancelar, em sequência, outra nomeação do próprio partido seria fatal para Flávio Dino, que arriscaria iniciar 2023 com uma caveira de burro enterrada embaixo do Palácio da Justiça – aliás, uma das mais belas edificações de Oscar Niemeyer, na Esplanada dos Ministérios. A solução, então, teve que ser negociada por dentro, com a ajuda daquele que ajudou a meter Dino na encrenca, ou seja, Geraldo Alckmin. Assim, dois dias depois, alegando “questões familiares de natureza pessoal”, o coronel Restivo desistiu de assumir a secretaria. “.

O golpe de sorte está no fato de que, no mesmo dia em que Restivo tirou o time de campo, Jair Bolsonaro arreganhou os dentes da boca podre mais uma vez, a 7 dias do fim: indultou 74 policiais militares condenados pelo massacre do Carandiru, 30 anos depois.

Tivesse permanecido no cargo, o coronel estaria inserido, simbolicamente, nesse pacote lamentável de impunidade. Não porque tenha sido condenado pela participação no episódio, quando tenente da PM, não o foi – mas por representar uma inexplicável presença da extrema-direita dentro do governo, tudo aquilo que, justamente, o eleitor de Lula quis varrer quando derrotou Bolsonaro nas urnas.

Resta a lição, mesmo para um político do alto nível e da experiência de Flávio Dino: em Brasília, o diabo mora nos cargos.

Escrito por:

Jornalista, escritor e professor. Sócio fundador da agência de publicidade e marketing digital CobraCriada.

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