Ministério descarta colapso do sistema de saúde por causa da seca e fumaça

17 de setembro de 2024, 17:46

Às vésperas de chegar a pior seca da história, o Distrito Federal registrou um nível de poluentes 11 vezes acima do adequado, e o cenário motiva a preocupação de especialistas e pesquisadores em saúde de todo o país.

De acordo com o coordenador-geral da Força Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS), Rodrigo Stabile, o governo federal nunca havia enfrentado uma situação “tão preocupante” provocada pela seca intensa e mais longa, além de ser agravada pelas queimadas que lotam o céu de fumaça e fuligem.

“[O cenário de fumaça e seca] traz consequências gravíssimas não só à saúde humana da fauna, mas também ao meio ambiente e econômicas, pois afetam o acesso da população à água e comida. Assim, temos intensificado os esforços, por meio dos trabalhos na Sala de Situação Nacional de Emergências Climáticas, e nos planejando para um prolongamento da estiagem no Centro-Oeste”, declarou o representante do Ministério da Saúde.

Stabile acrescentou que o governo federal, por meio de ações interministeriais, tem mantido conversas com os governos do DF e de outras unidades da Federação, em virtude do recente aumento nos atendimentos em hospitais por causa de náuseas e vômitos. No entanto, por ora, a possibilidade de colapso do sistema de saúde está descartada.

Além disso, o coordenador da Força Nacional do SUS afirmou que a Sala de Situação Nacional de Emergências Climáticas tem monitorado como a seca afeta a incidência de incêndios florestais. “Mas vale ressaltar que toda queimada que ocorre durante o período de estiagem resulta de ação humana”, suspeita o gestor.

Monitoramento governamental

Para o professor Ricardo Martins, da área de clínica médica da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), além das medidas emergenciais adotadas, há necessidade de mais atuação por parte dos governos distrital, estaduais e municipais.

“É indispensável que sejam adotadas medidas preventivas de educação da população, para que se evite a prática de queimadas, assim como alarmes imediatos, de modo que haja monitoramento e avaliação constantes da qualidade do ar por parte de órgãos governamentais”, analisou o docente.

Docente do curso de medicina da Universidade Católica de Brasília (UCB), a pneumologista Gilda Fonseca chama a atenção para a alta procura pelas unidades de saúde, sejam públicas ou privadas. “Muitas pessoas, incluindo jovens, têm buscado esses locais e prontos-socorros com sintomas de tosse, dor de cabeça, falta de ar, e em um volume que chega a ser preocupante agora”, afirmou.

Cuidados com a saúde

Integrante da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia (Aborl-CCF), o médico Stênio Ponte ressalta que, por enquanto, o ideal é evitar o contato direto com a fumaça, se possível – inclusive, com uso de máscaras de proteção ao sair de casa.

“Estamos há mais de 140 dias sem chuvas no DF e, agora, a fumaça chega para somar aos efeitos danosos ao nosso corpo. Para que não soframos tanto neste período, algumas medidas como uso de máscaras de proteção do tipo N95 e PFF2 – únicas capazes de barrar as partículas finas de poluentes e gases tóxicos da fumaça”, enfatizou o otorrinolaringologista.

Entre outras dicas do médico estão: “Evitar ar-condicionado em excesso, pois o equipamento resseca o ambiente, principalmente os muito fechados; evitar exposição e atividades ao ar livre durante os períodos mais críticos do dia; se viável, umidificar os espaços, principalmente à noite; e manter o cuidado e a hidratação das vias nasais”.

O pneumologista William Schwartz chamou a atenção para o fato de a hidratação ser uma importante aliada contra doenças e infecções respiratórias ou pulmonares, pois permite que fumaça, fuligem e outras partículas inaladas sejam mais facilmente eliminadas pelo organismo.

A alergista Paula Argolo acrescentou que a hidratação das vias nasais também pode aliviar a sensação de “queimação” nessa área e ajudar a manter a lubrificação da mucosa nasal, igualmente importante para a manutenção do organismo saudável. Os especialistas reforçam, no entanto, que esse procedimento deve ser feito apenas com uso de soro fisiológico, aplicado em jatos nas narinas.

Cuidados redobrados

Apesar de todos estarem suscetíveis aos efeitos da seca intensa e da atmosfera coberta por fumaça, crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas, como bronquite, asma ou insuficiência cardíaca, devem redobrar os cuidados.

O cardiologista Rafael Cortês afirmou que as famílias também devem ficar atentas a possíveis sintomas “silenciosos” entre pessoas desses públicos. “É preciso aumentar a vigilância, pois nem sempre as crianças e os idosos comunicam quando sentem sinais”, lembrou.

“Se você tem um idoso próximo, uma pessoa que respira com mais dificuldade ou alguém que tenha coração mais fraco em casa, fique atento caso ela esteja conversando menos, demonstrando cansaço maior ou apresentando menor disposição, pois esses são sintomas menos nítidos que podem levar a descompensações pulmonares ou cardiovasculares e, em casos mais graves, à hospitalização”, orientou Rafael.

Foto: Joel Rodrigues/ Agência Brasília

Com informações do Metrópoles

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