Especialistas apontam alternativas para o trânsito do DF não colapsar

5 de fevereiro de 2024, 06:11

O Distrito Federal ultrapassou a marca de 2 milhões de veículos registrados em circulação, de acordo com dados do Departamento de Trânsito (Detran-DF). A capital do país fechou o ano passado com 2.026.118 equipamentos de transportes — aumento de 3,82% em relação a 2022, quando o DF tinha cerca de 1.951.546. Para especialistas, a cidade se aproxima de uma mobilidade urbana insustentável, pois, entre outras questões, as vias teriam alcançado o estado de saturação.

Doutora em transportes pela Universidade de Brasília (UnB), Adriana Modesto acredita que o governo local, de certa forma, colabora com o que ela classifica como “estrutura de poder no trânsito”, ao preterir as necessidades dos demais usuários — pedestres, ciclistas e usuários do transporte público coletivo — em suas ações e políticas públicas. 

“Em síntese, eleva o automóvel à condição de ‘senhor das vias’, priorizando suas demandas e, por consequência, deixando de perceber o transporte como potencial indutor do desenvolvimento social e tornando o espaço urbano menos humanizado e democrático”, aponta.

Para a especialista, são notórios os transtornos decorrentes do uso massivo de veículos individuais. “A piora da qualidade de vida, em razão dos congestionamentos que acabam acarretando maiores tempos de viagem, problemas relacionados à questão ambiental e à saúde pública, além da maior probabilidade da ocorrência de sinistros de trânsito”, detalha. 

Adriana afirma que multiplicar viadutos, vias, túneis, aproxima o DF de uma “mobilidade urbana insustentável” e incapaz de corrigir os transtornos experimentados cotidianamente pela população.

Doutor em segurança de trânsito e presidente do Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito (IST), David Duarte ressalta que não é possível fazer uma projeção sobre o crescimento da frota, mas acredita que ela esteja perto de alcançar a saturação. “Isso por causa da capacidade da população de adquirir um veículo. Atualmente, não se gasta menos do que R$ 1 mil por mês, somente com manutenção de um carro, fora a prestação”, calcula.

Além disso, o especialista observa que as vias estão suportando o máximo de sua capacidade. “Tanto as principais quanto as secundárias, pois elas não têm mais para onde crescer”, aponta. “A perda de tempo no trânsito, por isso, é absurda”, avalia Duarte.

Para a especialista Adriana Modesto uma das alternativas para desestimular o uso massivo de veículos individuais motorizados é o investimento em transporte público coletivo. “Para reverter esse panorama adverso, urge que seja contemplada diversificação de modais, de sistemas de transportes, de modo a amenizar tamanha dependência do modal rodoviário”, acrescenta.

O presidente do IST pontua que o crescimento da frota de veículos só se deu nesse ritmo por conta do transporte público precário. “Tanto na qualidade quanto no preço”, reforça. Para mudar a realidade do caos no trânsito do DF, David Duarte crava: “Não há solução para a mobilidade urbana sem que o transporte coletivo de massa seja o grande protagonista.”

A Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) afirmou que trabalha constantemente em políticas públicas para a melhoria da mobilidade e do transporte público do DF. A pasta disse que monitora as operações do transporte público coletivo e faz os ajustes necessários, tais como aumento de viagens, mudança de itinerário e criação de linhas, para garantir a segurança e o conforto dos usuários.

A Semob ressaltou que vem implementando aumento de viagens em linhas mais demandadas, a fim de melhorar os deslocamentos de usuários do transporte público coletivo, e que o DF conta com mais de 150km de faixas exclusivas para ônibus, em diversos corredores, que reduzem o tempo das viagens no transporte coletivo.

Foto: Toninho Tavares/Agência Brasília

Fonte: Correio Braziliense

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